O Brasil comemora em 2024 os 30 anos de implantação do Real. No início de 1994 a inflação estava em 40% a.m. ou 3.000% a.a. e a saída encontrada pela equipe econômica foi criar a URV (Unidade Real de Valor), que tinha paridade com o dólar e absorvia a variação dos preços das mercadorias em Cruzeiro Real, moeda circulante na época. A idéia era romper com a dinâmica de preços cruzando um sistema com duas moedas: a antiga, inflacionada, e a nova, que teria o seu valor corrigido diariamente. Acompanhei esses debates direto do Congresso Nacional, quando meu pai, Jackson Pereira, exercia mandato na Câmara dos Deputados, era vice-líder do PSDB e depois vice-líder do Governo FHC.
As condições políticas atuais tornariam muito difícil a implantação de um plano econômico nos moldes do que foi feito há 30 anos. Hoje teria que articular com o Centrão, driblar o Orçamento da União bem mais rígido, as emendas parlamentares obrigatórias nas alturas, ou seja, seria mais complicado conseguir o que foi feito, o corte de 20% nas despesas orçamentárias. A base aliada de FHC era PSDB, PFL, PMDB e PPB que, juntos, tinham 360 deputados. Hoje, para ter 317 deputados formalmente o Governo Lula precisa de 11 partidos, isso ilustra a dificuldade.
Quem criou as bases para as políticas públicas implementadas no Governo Lula pós-FHC de redução das desigualdades, de recuperação da economia brasileira, foi a estabilidade da moeda que ele, Lula, tinha sido contra. O sistema de metas para a inflação, o câmbio flutuante, a questão de responsabilidade fiscal foi um segundo passo importante para que o Real não fosse abatido logo na sua primeira crise, que começou com os países asiáticos e bateu aqui no Brasil.
Temos um receio na atualidade de como o regime de metas vai ser mantido no Brasil, ainda é muito recente a discussão, ou seja ainda falta um amadurecimento maior, estamos sob o risco da política fiscal, temos seguidos anos de déficit, não conseguimos construir uma situação sustentável, temos que fazer algo para estabilizar a dívida pública.
Enfim, perguntas básicas que fazemos hoje: por que o Brasil cresce pouco? Por que o Brasil tem uma distribuição de renda tão desigual? Por que é tão difícil fazer reformas no Brasil? Quando a gente olha o Real e a estabilização macroeconômica brasileira, tem um ponto fraco que é um pais de juro alto e do outro lado da moeda tem o desequilíbrio fiscal. O juro alto é um sinal de uma situação fiscal muito ruim.