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Vasco Furtado: Por novas utopias
Opinião

Vasco Furtado: Por novas utopias

Precisamos considerar modelos econômicos que se adaptem às novas realidades tecnológicas. À medida que as máquinas assumem de mais em mais novas tarefas, os seres humanos podem focar em atividades que envolvem criatividade, empatia e pensamento crítico
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Vasco Furtado

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De trabalhadores braçais na sociedade agrária a trabalhadores do conhecimento na sociedade atual, a relação trabalho-consumo está no coração do sistema econômico capitalista. Consequentemente, o trabalho se torna parte integral de nossas vidas, permeando nossas identidades. Para a pergunta "Quem você é?", respostas como "sou médico", "sou advogado" ou "sou professor" são comuns. No entanto, contínuas inovações tecnológicas geram desequilíbrios na oferta e demanda de trabalho, acentuando precariedades e levando frustração às massas. Esse processo é uma das maiores fontes de tensões nas sociedades modernas, afetando valores como a democracia.

A Inteligência Artificial, mesmo em seus estágios iniciais, já indica que vai reduzir drasticamente a oferta de trabalho como conhecemos. As máquinas podem não nos substituir completamente, mas vão alterar profundamente o mercado de trabalho, levantando dúvidas sobre a viabilidade de um sistema econômico baseado no dualismo trabalho-consumo. Urge criarmos novas utopias que conduzam nossa visão de futuro.

Precisamos considerar modelos econômicos que se adaptem às novas realidades tecnológicas. À medida que as máquinas assumem de mais em mais novas tarefas, os seres humanos podem focar em atividades que envolvem criatividade, empatia e pensamento crítico. A renda básica universal pode garantir uma distribuição de renda mais equitativa em um mundo com menos trabalho disponível. A economia colaborativa, baseada no compartilhamento de recursos e serviços, pode substituir o consumo desenfreado, contribuindo para a redução de concentração de renda característica do capitalismo atual. Uma utopia que visa a sustentabilidade, ciente das questões climáticas e promotora do uso racional dos recursos naturais.

As universidades, atualmente focadas na preparação de profissionais para o mercado, precisarão se reinventar para formar indivíduos com visão humanística e científica, capazes de captar os fundamentos dessa nova utopia. Elas devem se transformar em centros de aprendizado contínuo com programas de educação ao longo da vida. A Inteligência Artificial deve ser criteriosamente introduzida no ensino para permitir a pervasividade e intempestividade do aprendizado, mas não pode deixar de lado a constante reflexão sobre a diferença entre competência e a compreensão.

Em suma, criar novas utopias baseadas em equidade, colaboração, sustentabilidade e aprendizado contínuo será essencial para construir um futuro mais justo e sustentável.

 

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