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Camila Arraes de Alencar Pimenta: Filho é filho e ponto final
Opinião

Camila Arraes de Alencar Pimenta: Filho é filho e ponto final

Quando a Suzane von Richtofen matou seus pais foi dado destaque ao fato de ela ser filha biológica? Por que esse destaque quando o filho foi havido por adoção? A Constituição Federal de 1988 equiparou os filhos biológicos aos adotivos
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Camila Arraes

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No último mês alguns meios de comunicação de grande circulação, divulgaram duas notícias de que filhos haviam matado seus pais. Em uma delas a manchete trazia o seguinte texto: "Filho adotivo mata pais e irmã". Na outra não havia menção à adoção na manchete, mas ao fim do texto dizia que o rapaz tinha sido adotado desde os 6 (seis) anos.

E aí me vem à tona o seguinte questionamento: qual a relevância dessa informação? Quando a Suzane von Richtofen matou seus pais foi dado destaque ao fato de ela ser filha biológica? Por que esse destaque quando o filho foi havido por adoção? A Constituição Federal de 1988 equiparou os filhos biológicos aos adotivos. Ou seja, filho é filho e ponto final.

Quando uma notícia é publicada com essa ênfase, a sociedade perpetua o estigma que a adoção ainda carrega nos dias de hoje. Quem sofre com isso são as crianças e adolescentes que estão a espera de uma família e que irão continuar na situação de abandono. Também serão vítimas aqueles que tem o desejo de serem pais, estão no cadastro de adoção a espera do teu tão sonhado filho e que não carregam esse estigma que tentam apregoar. Além de aqueles que já foram adotados e podem sofrer com um preconceito social incutido na mente das pessoas ao seu redor.

A adoção traz inúmeros desafios, alguns até inimagináveis, não precisa que mais um obstáculo lhe seja acrescentado. Infelizmente, a nossa sociedade ainda não está preparada para uma das formas mais lindas de amor. As tristes situações noticiadas não revelam a realidade de cada vítima dessa tragédia; não mostram a possibilidade de existência de algum tipo de transtorno, mas tão somente destacam que eles eram filhos adotivos. Isso leva a crer que a causa do crime foi a adoção.

Então, o que nós como sociedade, os jornais, o poder público e todos os entes que têm algum poder de voz e efetivação de políticas públicas podem fazer para evitar essas situações? Primeiramente, dar efetividade à Constituição e não fazer distinção entre os filhos. Segundo, e talvez o principal meio, fazer um trabalho de formiguinha para desmitificar tantas concepções erradas sobre a adoção. De grão em grão, essa concepção poderá ser mudada para gerações futuras e conseguiremos espalhar mais amor ao invés de preconceitos e interpretações erradas para essas crianças que só querem uma família para chamar de sua.

 

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