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Vinícius Rodrigues Vieira: Trump radicaliza mais ao escolher vice
Opinião

Vinícius Rodrigues Vieira: Trump radicaliza mais ao escolher vice

A escolha do jovem senador J. D. Vance, eleito em 2022 para representar o estado de Ohio, reafirma o compromisso trumpista de representar os brancos de classe média baixa que se veem como perdedores da globalização
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Vinícius Rodrigues Vieira

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Enganou-se profundamente quem apostava que, após sobreviver a uma tentativa de assassinato, o ex-presidente americano Donald Trump, candidato à Casa Branca pelo Partido Republicano, procuraria fazer acenos ao centro político, buscando a unidade dos Estados Unidos. A escolha do jovem senador J. D. Vance, eleito em 2022 para representar o estado de Ohio, reafirma o compromisso trumpista de representar os brancos de classe média baixa que se veem como perdedores da globalização e da ascensão da América multicultural, formada por imigrantes das mais diversas origens e seus descendentes.

Vance, que fará 40 anos em 2 de agosto, foi criado pelos avós maternos na região dos Apalaches, que bem representa a decadência da indústria americana e da classe trabalhadora no pós-Guerra Fria. Sua mãe tornou-se uma dependente de drogas ilícitas após se divorciar do padrasto de Vance. Aos 20 anos, o atual senador foi servir na Guerra do Iraque e aos 30 graduou-se em direito por Yale, uma das mais conceituadas universidades do mundo. Ganhou proeminência ao escrever a autobiografia Hillbilly Elegy (Elegia Caipira, numa tradução literal).

Quando Trump iniciou seu primeiro mandato, Vance era um crítico feroz do então presidente. Sua esposa, de origem indiana, chegou a compará-lo a Adolf Hitler. Nos últimos sete anos, porém, o agora colega de chapa do ex-presidente converteu-se a seu estilo populista e venceu a corrida ao Senado apoiado por ele.

Vance simboliza a base trumpista original em detrimento de latinos e afro-americanos que, conforme pesquisas, já vinham aderindo à candidatura republicana antes do atentado de 13 de julho, seduzidos pela guerra cultural que valoriza um suposto conservadorismo e uma retórica xenófoba, que flerta explicitamente com o nacionalismo branco.

Tivesse havido uma inflexão de Trump ao centro, ele teria escolhido ou Marco Rubio, senador de origem latina da Flórida, ou Tim Scott, afro-americano que representa a Carolina do Sul. Ambos são mais experientes que Vance, cuja juventude pode ser explorada negativamente pelo cambaleante candidato à reeleição Joe Biden.

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