Não sou médica, mas tenho acompanhado o Instagram de muitos profissionais da área da Medicina, além de psicólogos e psicanalistas. Na semana passada, um debate me chamou atenção: tratava-se de uma discussão sobre o desejo na Medicina.
Um determinado médico contava a história de um atendimento de urgência: um colega teria encontrado o filho de cinco anos no fundo de uma piscina. Com todo o desespero de qualquer pai, correu ao hospital, juntou uma equipe e acompanhou, dentro da UTI, as tentativas de ressuscitação do filho.
O médico, narrador da história, contou que a equipe estava quase desistindo: a criança não reagia. Em determinado momento, ele teria dado um leve olhar de rabo de olho para o pai da criança, que respondeu rapidamente: "Eu sei tudo, mas tentem só mais um pouco, por favor!"
A criança em questão tem atualmente cerca de 40 anos e levou até agora uma vida sem sequelas desse acontecimento.
Embora todos os procedimentos tomados para salvar a vida deste menino fossem os mesmos estabelecidos para qualquer pessoa, o médico diz guardar um constrangimento: na sua avaliação, o que salvou a vida desta criança foi o olhar do pai. E essa é uma grande questão: quais são as motivações ou os desejos que nos movem como profissionais? Naquele momento, para o médico, foi atender a súplica daquele pai.
Quando se fala em Medicina, geralmente falamos da tentativa de salvar vidas. Nada contra a necessidade de uma boa remuneração dos profissionais ou do respeito ao cansaço gerado pelo trabalho ou até mesmo a vaidade inerente a cada um de nós; mas quais são os olhares motivadores em uma profissão tão importante? Claro, as respostas são subjetivas, mas há algo no imaginário coletivo.
Com a elevação (preocupante, sob o aspecto da qualidade) na abertura de novos cursos de Medicina no País e um número crescente de estudantes matriculados em cursinhos para entrar nestas faculdades, essa pergunta ganha uma dimensão mais relevante. Como diria o médico e psicanalista Jorge Forbes: "será que essas pessoas que concorrem a essas vagas querem realmente o que desejam"?
Talvez essa seja uma das questões centrais que, infelizmente, não constam nas provas. Dependendo da resposta, teremos um desenho sobre o perfil dos novos profissionais e uma boa reflexão sobre o assunto.