O governo brasileiro vem errando todas as questões da prova a que foi submetido sobre a situação da Venezuela. Por fim veio a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, dizendo que não ter visto "nada grave, nada de assustador" no viciado processo eleitoral venezuelano, apesar das abundantes evidências de fraude.
Desconsiderando a "cautela" com a qual o governo brasileiro justifica sua atuação no episódio — esperando a ata das urnas para emitir uma opinião —, o PT chutou o pau da barraca, reconhecendo a vitória do autocrata Nicolás Maduro.
A nota da executiva do PT considerou que a eleição foi uma "jornada pacífica, democrática e soberana", o que soa como ironia, depois que 11 manifestantes foram mortos em protestos contra a
fraude eleitoral.
Circulam informações que Lula teria se "irritado" com a iniciativa do PT. Mesmo assim, publicamente, ele justificou a nota do partido. Menos mal que a decisão da executiva não tenha sido unanimidade entre os petistas.
Imaginem se o ex-presidente Jair Bolsonaro houvesse atingido seu intento de barrar nas estradas os eleitores de Lula, em 2022, utilizando-se da Polícia Rodoviária Federal (PRF), levando à derrota do petista por uma margem mínima de votos. O PT consideraria a eleição "democrática e soberana"? A lembrar que Silvinei Vasques, diretor-geral da PRF à época, está preso até hoje por dirigir a ação de bloqueio.
Estão certos os que argumentam que os acontecimentos na Venezuela transcendem o que acontece no país. Que o debate envolve questões geopolíticas; a defesa de um mundo multipolar, com vários polos de poder; a política de priorizar os interesses do "sul global". E que nessa circunstância é preciso ter relações econômicas e diplomáticas com países das mais diversas culturas, costumes e ideologias. Concordo.
No entanto, é possível fazer tudo isso de maneira profissional, mantendo a distância regulamentar de regimes ditatoriais. E o Brasil tem experiência diplomáticas de sobra para lidar de maneira criteriosa com qualquer situação, sem ofender eventuais parceiros, mas evitando tornar-se "amigo" e defensor incondicional de autocratas, o que sempre termina em enrascadas, como se pode ver. n