No último dia 20 de julho, o povo de Juazeiro do Norte e a nação romeira celebraram com júbilo a memória pelos 90 anos da morte do Padre Cícero. No rosto de cada devoto, a certeza que o padrinho Cícero continua vivo e permanece presente em suas lutas e em suas vidas. O largo do Socorro em Juazeiro tornou-se um templo a céu aberto para acolher os peregrinos. O túmulo do sacerdote Cícero ao pé do altar da capela de Nossa Senhora do Socorro considerado espaço sagrado no qual os afilhados do "Santo do Juazeiro" depositam flores, agradecem pelas graças alcançadas e suplicam por suas necessidades tornou-se um lugar de revitalização da memória e esperança dos devotos.
As crenças e rituais dos romeiros são nutridas pela convicção da presença invisível do padrinho Cícero na sua lápide, de onde emerge o poder benfazejo que se interioriza nas imagens e os objetos das suas devoções a serem portados na itinerência do viver. Todos os rituais vividos no Juazeiro evocam a perenidade e o desejo de permanência das marcas deixadas pelo Pe. Cícero nas mentes e corações dos sertanejos nordestinos.
O Padre Cícero exerce até hoje, o papel de mestre que ensina construir o presente e compor o futuro. Um líder carismático orientador dos pobres e abandonados. Suas pregações, exemplos de acolhimento e aconselhamento atualizam-se na sucessão dos anos e repercutem na realidade concreta vivida pelos seus devotos. O mestre do horto que se expõe ao sol e assume com radicalidade o cuidado, o afeto, a compaixão, a pacificação e a proteção e consagrando-se no imaginário popular como conselheiro do sertão por entender bem da aridez da vida.
Atualmente, tramita no interior da Diocese de Crato o processo de beatificação e canonização do Pe. Cícero. A hierarquia da Igreja busca a reconciliação com o sacerdote perseguido e incompreendido em vida. Nesse momento é própria Igreja que no passado endureceu punições ao padre e sanções ao Juazeiro que se rende à pessoa do Padre Cícero no reconhecimento das suas virtudes heroicas e de seu papel transformador na manutenção da religiosidade do catolicismo brasileiro.
Numa determinada circunstância, uma romeira aproximou da pesquisadora Irmã Annette e afirmou: "Padre Cícero é o santo do Sol". Em seguida, explicou: "Meu padrinho Cícero é o santo do sol porque os outros santos têm direito de entrar na Igreja, e ficam numa bem boa, na sombra! Mas, nosso Padrinho fica com a gente, no sol, sofrendo do calor com a gente! Hoje ainda, ele continua do nosso lado, no sol, com a gente!" Esse testemunho consagra a santidade do Pe. Cícero como guia, conselheiro e protetor. Ele que, com sua obstinação, seu sonho e seu carisma de padrinho, patriarca e mestre bem soube plantar a perseverança, irrigar a fé, semear a paz, irradiar luzes e ver brotar a esperança nas glebas e corações dos nordestinos. Viva o "Santo do Sol" que ilumina nossas vidas!