O açaí, um fruto reconhecido internacionalmente, originário da palmeira do açaizeiro, cultivada nas áreas alagadiças das várzeas do norte brasileiro, compõe a dieta alimentar das comunidades locais, incluindo indígenas, ribeirinhos, castanheiros, quilombolas e pescadores. Caracterizado por seu alto valor nutricional, transbordado em fibras e antioxidantes, o açaí conquistou mercados internacionais significativos.
Os Estados Unidos lideram as importações de sua polpa e países europeus como Espanha e Portugal também adotaram o produto. Recentemente, o Brasil obteve a aprovação sanitária de exportação para a Índia e Singapura, ampliando ainda mais seu alcance global.
A realidade é que o sucesso exponencial nas exportações não garante um trabalho digno aos extrativistas do açaí, pessoas praticamente invisíveis aos consumidores. De acordo com um relatório do Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região, essa atividade está entre as mais perigosas exercidas no Brasil.
O recolhimento das bagas é feito pelo peconheiro, como é chamado o extrativista do açaí. Com o terçado atado na cintura e auxiliado por uma peconha - instrumento artesanal feito de fibras de palmeiras ou de plástico, o peconheiro escala altas palmeiras que podem ultrapassar vinte metros de altura. Estima-se que cada cesto de 28 kg de açaí custa, em média, R$ 20,00. Esses cestos são vendidos a atravessadores que posteriormente comercializam aos produtores de polpa.
A escalada nos açaizeiros não é a única dificuldade enfrentada pelos extrativistas. Eles também lidam com o excesso de exposição ao sol, riscos de fraturas ósseas, escorregões entre as estivas, quedas das árvores, ferimentos acidentais com o terçado como empalamento e cortes, além dos perigos de picadas de abelhas e de animais peçonhentos. Os acidentes de trabalho não são registrados, pois a profissão é exercida de maneira informal.
A invisibilidade do trabalho desempenho pelos peconheiros viola o conceito de trabalho decente garantido pela Organização Internacional do Trabalho, que também integra os objetivos de desenvolvimento sustentável da Agenda Global 2030. O trabalho decente é essencial para superar as desigualdades sociais e garantir igualdade de oportunidades. Priorizar a dignidade do trabalhador significa romper com a estrutura de mitigação das desigualdades, além de interromper o ciclo vicioso de instabilidades e precariedades ligadas à profissão.