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Maracanaú: hegemonia e oposição
Opinião

Maracanaú: hegemonia e oposição

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Emanuel Freitas da Silva, professor adjunto de Teoria Política (Uece/Facedi), professor permanente do programa pós-graduação em Políticas Públicas (Uece) e professor permanente do programa de pós-graduação em Sociologia (Uece) (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Emanuel Freitas da Silva, professor adjunto de Teoria Política (Uece/Facedi), professor permanente do programa pós-graduação em Políticas Públicas (Uece) e professor permanente do programa de pós-graduação em Sociologia (Uece)

Exatos 20 anos nos separam da primeira eleição de Roberto Pessoa como prefeito de Maracanaú, derrotando o ciclo eleitoral que tinha à frente Júlio César Lima, hoje um vereador coadjuvante no jogo político da cidade. Não se imaginava à época que um grupo político acionado eleitoralmente para tirar do pode um grupo com pretensões hegemônicas, que tentava eleger à época Margareth Rose (tempos em que o PSDB ainda era forte no Ceará), pudesse, uma vez eleito, constituir-se como uma das mais poderosas e longevas oligarquias contemporâneas, que parece não encontrar uma oposição à altura.

Em seu terceiro mandato de prefeito (tendo passado pelo PL, PR, PSDB e agora no União), "substituído" duas vezes por Firmo Camurça e com um "assento" garantido na Alece (hoje ocupado por Firmo, mas que já o foi por sua filha Fernanda) e outro na Câmara dos Deputados (ora ocupado pela filha), Pessoa busca agora chegar à Capital, com um de seus netos como vereador, e na vizinha Pacatuba, com seu genro candidato a prefeito.

Compreende-se: é que suas tentativas de vir a ser um líder no plano estadual, que tomou forma sobretudo quando candidato a vice de Eunício em 2014, não lograram êxito, restando-lhe aprofundar a hegemonia no munícipio.

Suas votações sempre foram percentualmente expressivas (63% em 2004, 87% em 2008 e 67% em 2020), dando mostras do poderio político e clientelista que exerce. Neste ano obteve êxito inigualável ao trazer ao seu palanque os "Júlios", pai e filho (opositores até então), num acordo com as lideranças do PT estadual, que nunca lhe fez oposição. Assim, uma grande coalizão garantir-lhe-á, ao que tudo indica, uma disputa tranquila.

Há alternativa ao poderio de Pessoa? A julgar pelo que se dará na eleição, apenas a dupla oposição consentida: a do deputado Lucinildo Frota, que já foi seu líder de governo e possui esparsas marcas de oposição; e a dos líderes "evangélicos" que, após anos de mobilização com eventos religiosos e pastas na cidade, pinçaram a deputada Silvana para construir o "reino" em Maracanaú.

Símbolo econômico da modernidade industrial do Ceará, a cidade parou politicamente no tempo, entregue a um grupo que exerce, com maestria, o domínio sobre aliados e opositores. Aliás,
existem opositores? n

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