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Manfredo Araújo de Oliveira: Nova economia
Opinião

Manfredo Araújo de Oliveira: Nova economia

Um projeto civilizacional alternativo exige, em primeiro lugar, o enfrentamento dos problemas da pobreza e da desigualdade. Com efeito, os pobres são as primeiras vítimas da lógica econômica vigente e dos desequilíbrios ambientais
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Manfredo Araújo de Oliveira, professor de Filosofia da UFC (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Manfredo Araújo de Oliveira, professor de Filosofia da UFC

A ética da integração universal, o grande desafio normativo de uma humanidade ameaçada de extinção, se opõe a uma destruição da natureza em função da realização de aspirações absurdas, radicadas em interesses não universalizáveis. Daí porque perde legitimidade nosso sistema econômico, focado exclusivamente na produtividade, que utiliza enormes quantidades de energia e matéria-prima gerando mais poluentes do que a terra pode absorver. Seus objetivos são o lucro e o crescimento ilimitado, concentrador, gerador de desigualdades estruturais e destruidor da natureza.

Com isto se estabelece a urgência de pôr a economia a serviço das necessidades das pessoas, da construção de relações integralmente humanas no respeito à natureza de que fazemos parte. Portanto, um modelo econômico baseado não na exploração e no lucro, mas numa economia solidária e ecológica, numa relação de respeito ao ser humano e à natureza.

O ser humano não é, simplesmente, mas busca conquistar-se e precisamente sua primeira conquista se dá em sua esfera básica de vida: ele é um ser vivo e, enquanto tal, precisa reproduzir-se. Sendo a história a instância em que o ser humano luta por conquistar sua humanidade, ela se revela, em primeiro lugar, como o campo da luta pela reprodução da vida o que ocorre através da obtenção das condições materiais que efetivam uma vida digna do ser humano enquanto ser livre.

A consequência é que o objetivo básico da atividade econômica não pode reduzir-se à busca da produção, mas tem que se propor, por meio da produção, alcançar a qualidade da vida humana, o que significa dizer que a economia em si mesma não se deve estabelecer como fim último, mas como um instrumento básico para garantir a reprodução material de todos. Trata-se de criar uma civilização de sustentação da vida na união de todos os povos e com a natureza, um modelo de desenvolvimento direcionado pelas necessidades humanas, que garanta a renovação da natureza, entrave o esbanjamento e não esgote os bens necessários para a vida. Um desenvolvimento, cuja meta básica seja a defesa da vida e não a maximização do lucro e do consumo.

A seleção de prioridades não deve orientar-se, antes de tudo, pela lógica econômico-sistêmica, mas pela lógica da reprodução da vida. Este horizonte novo implicaria, por exemplo, tomar o pleno emprego como prioridade básica das políticas econômicas e sociais já que um projeto civilizacional alternativo exige, em primeiro lugar, o enfrentamento dos problemas da pobreza e da desigualdade. Com efeito, os pobres são as primeiras vítimas da lógica econômica vigente e dos desequilíbrios ambientais.

Com a tomada de consciência dos estragos no planeta surge entre os economistas um debate a respeito da correlação entre crescimento econômico e aumento do bem-estar. A tese discutida é a respeito de indícios de que, a partir de um determinado nível de renda, capaz de assegurar as necessidades básicas, a melhoria da qualidade de vida não dependeria mais necessariamente do aumento de renda. Nesta situação, a melhor distribuição de renda constitui o fator determinante para a melhora da qualidade de vida.

 

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