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Somos nós os responsáveis
Opinião

Somos nós os responsáveis

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As pesquisas que medem os índices de confiança da população nas instituições registram, há anos consecutivos, o Congresso Nacional e os partidos políticos nas duas últimas posições como as menos confiáveis dentre 20 instituições pesquisadas. Nos últimos 15 anos, apenas o presidente da República, em duas ocasiões, mostrou-se menos confiável, o que demonstra a baixíssima credibilidade dos políticos no Brasil.

Tornou-se lugar-comum criticá-los imputando-lhes a pecha de corruptos, ineficientes e desconectados da realidade da população. Há quase uma unanimidade nessa rejeição. É induvidoso que tal percepção contribui decisivamente para o enfraquecimento de nossa democracia.

E de quem é a responsabilidade por isso? A resposta fácil e cômoda será a de acusar os suspeitos de sempre: os políticos de todos os matizes ideológicos que se locupletam à custa da população e nos envergonham em sucessivos escândalos.

Proponho, contudo, uma reflexão mais profunda. Quem os conduz aos cargos que exercem? Como temos escolhido nossos representantes e qual o critério que utilizamos?

Ora, quem realizar um honesto exame de consciência se envergonhará da conclusão: somos nós os responsáveis. A população brasileira não tem devotado às escolhas que faz um mínimo de cautela e prudência, deixando-se nortear por critérios os mais diversos, mas poucas vezes nobres, quando não abertamente criminosos. Vota-se por amizade, por chacota, por promessa de benefício e por dinheiro.

O genial Vieira em seu clássico e atualíssimo Sermão do Bom Ladrão já explicava o modo como os ladrões levavam os reis ao inferno: "porque os reis lhes dão os ofícios e poderes com que roubam" e porque conservam os ladrões nesses cargos, quando não os promovem a cargos maiores.

Já não são mais os reis quem escolhem prefeitos e governadores, senão o povo. Vale, contudo, a máxima de Vieira: damos a eles, voluntariamente, os poderes e cargos de que se utilizam em benefício próprio. O que dizer, então, do cidadão que vota conscientemente em um sabido corrupto? É tão responsável pela corrupção e pelo peculato quanto o seu executor direto.

Muito se fala de corrupção eleitoral como um mal. Pouco se ressalta, contudo, que a corrupção eleitoral é um crime bilateral: segundo o art. 299 do Código Eleitoral, também constitui crime "solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, dádiva ou qualquer outra vantagem para dar voto". É dizer, tão criminoso quanto quem compra voto é o eleitor que o vende.

Muitos eleitores escolhem de forma voluntária o corrupto pois esperam partilhar dos despojos da corrupção, traduzidos em migalhas que se lhes encaminha gostosamente no curso do mandato, muitas vezes na forma de empregos graciosos.

Em outras situações, vota-se por brincadeira, literalmente. Pululam na internet vídeos grosseiros de candidatos que fazem da chacota a sua propaganda, com isso amealhando um número enorme de eleitores irresponsáveis. É comum que essas pessoas, quando eleitas, desmoralizem as casas legislativas e administrações públicas que integram, corroendo ainda mais a sua credibilidade. Poderia ser diferente? Sim. Aceitemos nossas responsabilidades, façamos um exame de consciência e tomemos a sério nossos direitos políticos, escolhendo candidatos com o cuidado como se elege o procurador que nos representa em um negócio vultoso. Afinal, é disso que se trata. n

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