Se existe um tema controverso e sensível dentro do campo da esquerda brasileira é tudo relacionado ao governo de Maduro e a Venezuela. Se na época de Hugo Chaves havia certo consenso sobre sua liderança e o apoio popular a seu governo, o mesmo não se pode dizer de Maduro. A drástica situação econômica da Venezuela juntamente à crise de legitimidade do governo Maduro dividiu, até as últimas eleições, as avaliações sobre a situação política da Venezuela.
No entanto, após as últimas eleições, ninguém mais pode ter dúvida que o regime político da Venezuela está longe de ser democrático, configurando-se numa autocracia liderada por Nicolás Maduro. Se nas eleições anteriores restava sempre dúvidas em relação as ilicitudes no processo eleitoral, nessas últimas eleições ficou claro que não foram licitas, competitivas e, muito menos, com a questão da não entrega das atas eleitorais, transparentes.
Para que um governo seja considerado democrático é preciso que as eleições sejam competitivas, justas e transparentes, ou seja, que haja possibilidade justa de alternância de poder, que as instituições garantam o processo democrático e a não violação do estado de direito, assim como ampla liberdade de expressão e mobilização. O que vimos durante o processo eleitoral na Venezuela e depois, com Maduro se titulando vencedor, assim como a oposição, violam todas essas dimensões.
Enquanto as Atas das eleições não forem divulgadas não tem como saber o real resultado eleitoral, apesar da oposição afinada com a extrema direita afirmar que tem ao menos 70% do resultado das urnas. Nesse sentido a posição diplomática do Brasil está ponderada, não há como interferir na soberania da Venezuela sem ter certeza do resultado. Qualquer posição mais extrema nesse momento pode ser perigosa porque envolve relações comerciais e econômicas, para além da afinidade política que os governos do Partido dos Trabalhadores sempre tiveram com Chaves e Maduro.
A esquerda, especialmente aqueles grupos mais sectários, precisam chegar a um consenso em relação à situação política da Venezuela. Não é possível mais colocar Maduro e a Venezuela no campo democrático. Há muito tempo isso não faz sentido. A defesa de Maduro não ajuda em nada a superação da extrema-direita, tanto lá, quanto aqui, pelo contrário, serve de munição para fortalecer o ímpeto golpista desses grupos. n