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Patrícia Cavalcante: Inexoravelmente, os invernos e as primaveras virão
Opinião

Patrícia Cavalcante: Inexoravelmente, os invernos e as primaveras virão

Após um período de privação e sofrimento, uma explosão de vida: a primavera. Quanta beleza, quanta delicadeza! Aqui, no Ceará, anseio pela floração dos ipês. Alguns já estão lindos! Parecem uma pintura suspensa no céu
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Patrícia Cavalcante. Psiquiatra. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Patrícia Cavalcante. Psiquiatra.

Adoro observar a natureza. As árvores exercem um fascínio sobre mim em todas as estações. Há quem não as admire no outono e no inverno. Eu, particularmente, gosto de vê-las completamente despidas. Fico assoberbada com a complexidade das ramificações de seus galhos. Assemelha-se a nossa circulação sanguínea, um sistema intrincado onde a vida flui e pulsa. Seus caminhos, que se bifurcam, desencontram-se e, por vezes, reencontram-se, fazem-me lembrar do verso da música "Eu Te Amo" do Chico Buarque: "Que na bagunça do teu coração, meu sangue errou de veia e se perdeu."

Após um período de privação e sofrimento, uma explosão de vida: a primavera. Quanta beleza, quanta delicadeza! Aqui, no Ceará, anseio pela floração dos ipês. Alguns já estão lindos! Parecem uma pintura suspensa no céu. Mas, precisamos estar atentos. Subitamente, eles perdem as folhas e ficam repletos de flores. Parece até um sonho, de tão rápido, de tão efêmero. Em poucos dias, aquele colorido exuberante encontra-se suavemente espalhado pelo chão.

Outro fato interessante é que as árvores conversam entre si, independente da estação. Ajudam-se mutuamente, comunicando-se através de uma espécie de rede subterrânea de fungos. Essa conexão permite-lhes trocar nutrientes e mensagens de alerta em situações de ameaça.

Se ficarmos atentos aos processos naturais, podemos aprender sobre cooperação, privação, resistência e efemeridade. Além do mais, contemplar a natureza e sentir-se "pequeno" diante dela nos torna mais generosos, menos auto-centrados e mais preocupados com o bem-estar do próximo.

Será que é possível observar e capturar o que a natureza tem a nos ensinar nesses tempos em que somos impelidos a correr desenfreadamente? Muitas vezes, é necessário parar ou até retroceder para enxergarmos melhor.

O percurso da vida é uma sequência de ciclos que se repetem assim como as estações. Que possamos viver cada fase de nossa existência em seu ritmo próprio, com profundidade, exercendo nossa capacidade de espera, pois inexoravelmente, os invernos e as primaveras virão.

 

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