Hoje tive agradável encontro com professor do meu tempo de cursinhos pré-vestibulares, atualmente ENEM, em escolas particulares de Fortaleza, nas quais fui professor e coordenador. Na prazerosa conversa, lembramos de circunstância ilária de nosso jurista maior, Clóvis Beviláqua, e a Academia Brasileira de Letras. O fato se deu quando da abertura de vaga para a ABL e a esposa de Clóvis, Sra. Amélia de Freitas Beviláqua, "ousou" se candidatar, mas, pelo só fato de ser mulher, a vaga lhe foi negada. Pouco tempo depois, a mesma academia, de Joaquim Maria Machado de Assis, viria a aceitar a escritora cearense maior, Rachel de Queiroz.
Beviláqua, o maior jurista cearense, e por que não dizer brasileiro, que diariamente ia à ABL, a partir da negativa do ingresso da esposa, nunca mais pisou na casa carioca machadiana, obviamente em sinal de protesto.
Inegável que a misoginia falou mais forte ao tempo da esposa de Clóvis, amenizando o facho quando do ingresso da grande Rachel de Queiroz, dentre tantas outras, como Nélida Piñon, Fernanda Montenegro e demais valorosas mulheres da plêiade de componentes da academia.
Sabe-se que em academias, das mais variadas vertentes e ramos do saber, bem assim em comendas e títulos concedidos por instituições, há reserva de parte das vagas a detentores de poder político, econômico, de sociedades secretas, como a maçonaria, ou de outras matizes, e até de vendedores de muitas obras mundo afora, que não o mérito propriamente dito de participar de tais seletas agremiações. Há de se admitir que a frase rodriguiana "a vida como ela é …" aplica-se como mão à luva em tais casos.
Beviláqua guardou o mérito de autor do Código Civil Brasileiro de 1916, em acirrada disputa com Rui Barbosa, mas não teve o regozijo de ver a esposa vestir o fardão do "Bruxo do Cosme Velho", o insuperável Machado de Assis.
Enfim, que doravante as academias de todas as áreas do conhecimento possam trazer para seus quadros pessoas que, verdadeiramente, têm o mérito de colaborar para o aprimoramento do saber e engrandecimento da condição humana, seja na literatura, de forma primordial, seja nos demais saberes deste ainda limitado "homo sapiens sapiens"!