Logo O POVO+
Thieres Pinto: Contradições da Industria do Hidrogênio Verde
Opinião

Thieres Pinto: Contradições da Industria do Hidrogênio Verde

É urgente encontrar um equilíbrio que considere os impactos ambientais e sociais, garantindo que a busca por energia limpa não comprometa o ecossistema, a vida das comunidades locais e o clima do planeta
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Thieres Pinto. Biólogo. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Thieres Pinto. Biólogo.

No Nordeste brasileiro, o carcará é apresentado como oportunista, cruel e impiedoso. Quero me reportar à sua imagem figurativa mesmo, referindo-me aos rapinantes que promovem o Hidrogênio Verde, recentemente regulamentado, como uma commodity milagrosa, omitindo suas contradições e perigos. É nesse viés que grandes usinas energéticas, essenciais para viabilizar essa nova indústria, incluindo eólicas offshore, estão sendo apresentadas às comunidades. Contudo, os mais calejados, como as comunidades litorâneas, frequentemente atacadas por empreendimentos prejudiciais a si, desconfiam desses discursos.

Um cenário preocupante é a falta de debate e planejamento sistêmico sobre usinas geradoras propostas para o interior do Nordeste. Atendo-me às usinas fotovoltaicas, plantas industriais que cobrem vastas áreas, com dimensões de até cinco mil hectares, com placas solares, criando ilhas de calor, nuvens de poeira e enxurradas, além de destruir a biodiversidade e afetar comunidades locais. A maioria das aves, por exemplo, não poderá transpor essas áreas, enquanto as pessoas enfrentam dificuldades para acessar recursos essenciais.

Além dos impactos ambientais, como desertificação e perda de biodiversidade, surgem questões sociais: quem suportará viver próximo a essas ilhas de calor e poeira? As novas usinas prometem energia renovável, mas podem piorar a crise climática global. Seus promotores, centrados em promessas otimistas, não consideram medidas mitigatórias efetivas, alegando que reduzir o adensamento de placas inviabilizaria o negócio.

Combater a crise climática com projetos que promovem a desertificação é tentar esvaziar um barco furado com uma peneira. É urgente encontrar um equilíbrio que considere os impactos ambientais e sociais, garantindo que a busca por energia limpa não comprometa o ecossistema, a vida das comunidades locais e o clima do planeta.

Essa omissão pode inviabilizar a sustentabilidade do próprio mercado, mas antes inviabilizará o voo dos carcarás.

 

O que você achou desse conteúdo?