No Ceará, somos 6.938.008 pessoas aptas a votar em 2024. Nossa idade está centralmente distribuída em três segmentos: de 25 a 34 anos (21,38%); de 35 a 44 (20,73%); e de 45 a 54 anos (23,72%). Na proporção de gênero, 53% de nós são mulheres, 47% são homens; e somos também 126 pessoas não binárias. Temos muito baixa escolaridade, apenas 26,34% de nós terminamos o ensino médio.
E somos pobres. Somos muito pobres.
Na extrema pobreza (US$ 2,15/dia) vivem hoje 876 mil pessoas no Ceará, isto é quase 10% da nossa população, é 15,5% da população rural e 7,7% da população urbana. Somos o segundo estado brasileiro com mais crianças vivendo abaixo da linha da pobreza, 17,56% das crianças cearenses viviam em lares cuja renda foi inferior a R$ 220/mês em 2022. Atenção agora: de cada 10 crianças e adolescentes no Ceará, 08 viveram alguma dimensão da pobreza em 2022, com privação ou dificuldades extremas de acesso à educação, renda, informação, água potável, saneamento ou moradia.
Somos 1.642.000 pessoas empregadas no setor privado, mas, destas, apenas 901 mil com carteira assinada. Somos 1.930.000 cearenses batalhando pela sobrevivência na informalidade, e somos 1.464.766 de beneficiários do bolsa família, em Fortaleza são 329,4 mil, em Caucaia 64,55 mil, em Juazeiro do Norte 35,1 mil, em Maracanaú 34,9 mil, e em Sobral 23,1 mil.
No Ceará, 48 dos 184 municípios não possuem nenhum tipo de serviço particular de saúde, somos 717 mil cearenses que dependem exclusivamente do SUS.
Esta é a fotografia, é o raio-x do eleitorado cearense. É quem somos nesta eleição.
Assim, enquanto há esforço de agendamento do tema da segurança pública como prioritário nesta eleição, eu diria a quem postula um mandato em 2024: "É a saúde, estúpido! É a educação! É a renda!", parafraseando James Carville, estrategista da campanha de Bill Clinton à presidência dos EUA em 1992.
Segurança pública é um tema obviamente relevante. Muito relevante. Mas na esfera de competência das prefeituras e câmaras municipais, o problema mais concreto de uma mãe cearense, de quarenta e poucos anos, moradora da periferia de um centro urbano, é consulta, exame, remédio de uso contínuo, saneamento básico, é a escola, é trabalho e é a renda.
Este artigo usou dados do TRE-CE, Ipea, Pnad, Caged, CNES, Ipece e do estudo "Pobreza Multidimensional na Infância e Adolescência no Brasil", feito pelo Unicef.