m um evento organizado por igrejas pentecostais no dia 8 de agosto, o governador Elmano de Freitas, discursando ao lado do deputado Luiz Henrique, prometeu garantir Bíblias para as escolas estaduais, em um claro aceno à agenda evangélica e conservadora que se destaca no país, a qual seu partido (PT) costuma (ou costumava) caminhar em direção oposta.
A fala de Elmano faz referência a um projeto do deputado Luiz Henrique que, se lermos com atenção, não se trata de adquirir bíblias para escolas; afinal, nas bibliotecas das escolas já existem Bíblias! O que o projeto de indicação nº 71/2022 pretende é trazer o tema "Bíblia cristã" como elemento transversal para o currículo do ensino médio, como se vivêssemos em um Estado confessional.
Percebam, não há problema algum em enriquecer o acervo das escolas com livros sagrados, o erro do projeto do deputado Luiz Henrique - que se auto-intitula "apóstolo" - é afrontar os princípios do Estado laico, privilegiando determinado discurso religioso na rede pública de ensino. E para ilustrar o cenário, façamos o seguinte exercício imaginativo: o que o apóstolo diria se livros sagrados de outras religiões fossem distribuídos nas escolas e seu conteúdo ministrado aos estudantes? Pois, para garantir a pluralidade religiosa, o deputado teria que criar também projetos análogos para o estudo do Vedas, do Alcorão, do Livro dos Espíritos etc.
E como o governador pretende viabilizar esse projeto, caso seja realmente aprovado? Irá contratar teólogos para as escolas? As escolas irão abrir suas portas para religiosos pregarem? Ou qualquer funcionário ou servidor vai poder abordar o conteúdo, interpretando as escrituras à sua maneira? Vejam a bagunça que gestores e professores terão que lidar, para, no meio dessa catequese dissimulada, preservar a rotina da escola e a liberdade religiosa dos estudantes.
O modo como Elmano está tocando a educação, básica e superior, é inimaginável até para o petista mais ferrenho. Seu eleitor começa a se perguntar se haveria hoje alguma diferença em caso de vitória do Capitão, afinal, o trabalho de Elmano é de dar inveja à direita. n