Juazeiro do Norte é enunciado como lugar de profusão de diferentes expressões culturais, onde a religiosidade popular ocupa um espaço privilegiado. Cenário de beatos, beatas, penitentes, rezadores e benzedeiras, de romarias, festas de santo e Renovações ao Sagrado Coração de Jesus, esse Juazeiro místico e mítico vem povoando o imaginário local e encetando a realização de inúmeros trabalhos e pesquisas nos campos da História, Sociologia, Antropologia, Filosofia, dentre outras áreas do saber.
Parte da realidade desse Juazeiro encantado me foi revelada pelas trilhas dos estudos e memórias de Renato Dantas, professor, educador físico, artista, teatrólogo e estudioso da história da cidade, que construiu uma obra a partir do labor cuidadoso de quem soube ouvir narrativas, prescrutar rastros e documentos e, com arte, dar a conhecer tudo isso.
Ressalto aqui o seu aporte para a produção de diversas pesquisas acadêmicas. Renato contribuiu de maneira imensurável para a construção de várias investigações. Era uma pessoa que compartilhava seus conhecimentos e reflexões com entusiasmo e generosidade. Através dele pude conhecer a história de beatos e beatas, personagens importantíssimas para a religiosidade vivenciada em Juazeiro nos tempos da questão religiosa envolvendo o Padre Cícero e as autoridades eclesiásticas católicas, mas apagados pela historiografia tradicional. A história da Beata Maria de Araújo, por exemplo, foi-me contada através de longas cartas trocadas pacientemente durante meses, em tempos anteriores à difusão da internet.
A cena cultural do Cariri está triste com a sua partida recente. Mas a sua existência luminosa e pródiga, assim como o seu legado, permanece como alento e inspiração para quem, como ele, visceralmente traz o amor por Juazeiro marcado em seu coração.
Segue em paz, amigo!