Encerradas as convenções e definidas as chapas que disputam a Prefeitura de Fortaleza, é possível observar como está montado o xadrez político que ocupará nossas atenções nos próximos meses. São nove candidatos. Entre os vices, seis são mulheres.
Até o momento, tudo o que tenho visto dos nomes que querem assumir o Paço Municipal e pretendem desapear o prefeito José Sarto (PTD), pelo menos um aspecto dos discursos se destaca. A sensação é a de que todos querem desalojar um grupo político - parceria entre uma parte dos Gomes e o ex-governador Camilo Santana - , incluindo o próprio prefeito.
Tenho me perguntado há anos qual o projeto para Fortaleza que se desenha num período eleitoral. Qual é o papel real que esse projeto tem e terá nesse processo? Como esses candidatos veem a cidade, habitam nela, pensam sobre ela, se têm ou já tiveram qualquer papel preponderante em Fortaleza, ou se já refletiram amplamente sobre o texto complexo que é esta metrópole.
E não estou tratando de programa de governo. Os programas de governo são peças eleitorais que compõem os projetos partidários. Um projeto de cidade pode muito bem fazer parte dos programas, mas é algo mais. Ele se estende futuro afora e pensa na construção de uma cidade que precisa ser, inclusive, para além dos partidos e que leve em conta as pessoas de um modo em geral, as mulheres, as crianças, os idosos, em particular. Que passa pela constituição de uma cidade que promova realmente bem-estar coletivo e ambiental e que evite privilegiar grupos específicos, o poder econômico em particular. A equação é complexa, por isso deve ser um projeto em constante movimento.
Sinceramente, olho para as candidaturas postas, incluindo a atual gestão e as que são compostas por mulheres e não encontro um projeto para Fortaleza. Esbarro em discursos com projetos políticos, com projetos de poder, com projetos que querem substituir o atual grupo político que comanda a Capital, mas, quando se trata de um projeto para Fortaleza, é tudo borrado.
No meio da batalha de carreatas, memes, vídeos virais e aliados fortes, entre outras estratégias, o que está em jogo na pista eleitoral é apenas o poder. Fortaleza é mera coadjuvante. Ela é meio, não fim. Fortaleza está sob disputa, mas o verdadeiro troféu é outro.
No último domingo estava numa roda de mulheres e uma delas comentou que havia se afastado das redes sociais porque sentia "nojo" de algumas postagens. A outra observou que, quanto mais tosco o vídeo, mais audiência tinha. Por fim, a terceira me perguntou o que eu achava que se devia esperar das eleições municipais.
Então, me lembrei de um livro que estou lendo que cita o poeta austríaco Hermann Broch, quando este alertou para o nível de "irracionalidade" que povoava o mundo na Grande Guerra. As redes sociais são um poço infinito dessa irracionalidade e piora em crises coletivas, como uma guerra. E não devo estar errada se acrescentar: em um processo eleitoral também. Resumindo, disse a minhas amigas: preparem-se para o irracional. n