Logo O POVO+
Dodora Guimarães Esmeraldo: Da importância do amor e da arte
Opinião

Dodora Guimarães Esmeraldo: Da importância do amor e da arte

O que leva a tanto descaso: desconhecimento da importância cultural de um bem artístico, descompromisso com o patrimônio público, desamor com a cidade que habitamos? Por que será que só temos olhos para monumentos e museus do estrangeiro?
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Foto do Articulista

Dodora Guimarães Esmeraldo

Articulista

Sérvulo Esmeraldo (1929-2017) dizia que a arte era a sua vida. Que ele acordava, comia e dormia com a arte. Fui testemunha desta sua dedicação ao ofício que ele abraçou com coragem e garra. Suas obras, prova cabal, desafiam o tempo, as intempéries e a falta de zelo pela coisa pública. Refiro-me aqui aos trabalhos do artista expostos a céu aberto, em logradouros públicos, ou integrados à arquitetura, no Ceará, constantes da Instrução de Tombamento, encaminhada pelo Instituto Sérvulo Esmeraldo, à Secretaria da Cultura do Ceará, em dezembro de 2023. Solicitamos com o documento elaborado pelo arquiteto e professor Romeu Duarte, o tombamento estadual deste conjunto de obras, confiantes na boa fé da proteção legal.

O uso deste recurso, além da responsabilidade da preservação, pode impedir, por exemplo, que obras desapareçam, sejam destruídas ou tomem destino ignorado, como o ocorrido com o Monumento aos 35 anos da Faculdade de Medicina da UFC, a Escultura-fonte comemorativa dos 75 anos do Dnocs, o Muro cinético do Palácio Iracema, o Relevo-mural do Banco do Estado do Ceará, no Crato, citando apenas essas para não estender a lista, que é grande, triste e desoladora.

Mas, afinal, o que leva a tanto descaso: desconhecimento da importância cultural de um bem artístico, descompromisso com o patrimônio público, desamor com a cidade que habitamos? Por que será que só temos olhos para monumentos e museus do estrangeiro? A propósito: será que nas escolas de tempo integral é previsto o ensino da educação patrimonial, nas escolas particulares e bilíngues consta na grade curricular alguma disciplina relacionada à cultura cidadã, será que nos lares as famílias ainda conversam em volta da mesa, falando de amor e carinho entre os seus? Quando vejo o estado de abandono do Monumento ao Jangadeiro, na nova Beira-Mar, sinto um desgosto que embrulha o meu estômago.

Quando preparamos com tanto amor e respeito a exposição "esse é Sérvulo Esmeraldo", no Crato, cidade natal do artista, questões a respeito da importância do amor e da arte me parecem necessárias demais para um debate sincero entre as pessoas. Neste quase quarto de século tão controverso, de tantas guerras, mudanças radicais e perigos iminentes de crises que colocam em risco o futuro da vida no planeta, é hora de exercitar a sensibilidade, de se buscar a generosidade e a flexibilidade. Onde encontrá-las? Arrisco dizer que as evidências mostram que somente na arte e no amor. O amor move montanhas. E a arte, como experiência dos sentidos, nos conecta com a essência humana.

 

O que você achou desse conteúdo?