Estamos iniciando, em todo o país, mais uma campanha eleitoral para prefeitos e vereadores e então, no capítulo alianças políticas, tivemos mais uma notícia de troca (ou promessa) de favores entre governantes e políticos religiosos. Desta feita, coube ao governador do Ceará, Elmano de Freitas (PT), dias atrás, em evento evangélico, a promessa de distribuir Bíblias e promover atividades de estudos bíblicos nas escolas públicas estaduais, em atendimento a projeto de autoria do deputado estadual Apóstolo Luiz Henrique.
Segundo O POVO, de 15 de agosto último: "A Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) aprovou nesta quarta-feira, 14, o projeto de indicação, de autoria do deputado Apóstolo Luiz Henrique (Republicanos), para compra de bíblias e a oferta do ensino religioso em escolas públicas do Ceará como temática transversal e facultativa na grade curricular." Caberá então ao Executivo a elaboração do projeto de lei. O fará? Escola é lugar de ciência, filosofia, arte e pensamento universal, no qual se incluem - ou devem ser incluídas - todas as culturas religiosas.
Mas é oportuno refletir aqui sobre essa relação promíscua da nossa classe política com grupos religiosos, especialmente evangélicos e católicos. A busca desesperada por votos e por influência fundamentalista, tem levado nossas instituições políticas a um quadro de confusão entre Estado e Igrejas. A pretexto de que o Estado não é inimigo da religião, desidrata-se o preceito laico do Estado brasileiro em favor de um fisiologismo teológico-político de graves consequências para as minorias, não cristãos, não religiosos, enfim para a liberdade de pensamento e de consciência. Aliás, além dos conchavos eleitorais diretos, o poder público, seja o Executivo, seja o Legislativo, é useiro e vezeiro de manobras de beneficiamento às religiões cristãs, como patrocínio de materiais de culto, incentivo ao turismo religioso, isenções fiscais...
Assim, a politicagem eleitoral que envolve altares, púlpitos e textos sagrados, distorce os princípios da soberania popular e promove o fundamentalismo religioso que aparelha o Estado a serviço da intolerância, do negacionismo e da ganância material de pseudorreligiosos. Enfim, que os políticos comecem por experimentar o ensino do Nazareno: "A César o que é de César, a Deus o que é de Deus". n