Logo O POVO+
À procura de um estadista?
Opinião

À procura de um estadista?

A luta por uma sociedade mais justa, democrática e socialista, ficou debaixo do tapete. Em vez da conscientização de direitos para os trabalhadores, a aposta é convencer os jovens a respeito de empreendedorismo, em tom coaching
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Saraiva Júnior. Escritor e ex-conselheiro dos leitores do Jornal O Povo. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Saraiva Júnior. Escritor e ex-conselheiro dos leitores do Jornal O Povo.

Praticidade é a palavra que expressa o modus faciendi da atual política eleitoral. A fórmula que inclui visitas aos bairros, às portas de fábricas, às associações civis, bem como a realização de passeatas para debater com a população um programa político - e, por conseguinte, a escolha de candidatos a prefeito e a vereador - parece ultrapassada. Para muitos, essas atitudes são perda de tempo e excesso de democracia que não se coadunam com as exigências do contexto atual. Nem adianta argumentar que o eleitor deseja conhecer o candidato e olhar nos seus olhos.

A burocracia partidária permite que a corrente ideológica majoritária do partido controle os diretórios (municipais, estaduais e nacional), o que não quer dizer que inexistam discussões políticas com as demais correntes. Então a corrente majoritária impõe os candidatos a prefeito e a vereador através de decisões de cúpula que, normalmente, envolvem conchavos escusos. Eis como surge o germe das ditaduras: hoje a decisão está com a cúpula; amanhã, caberá somente ao líder.

A ideia de que as correntes ideológicas internas promoveriam e enriqueceriam o debate político partidário virou falácia. Sem consulta aos moradores dos bairros, aos próprios filiados do partido, enfim, à população, os pretensos dirigentes modernos dispensam o corpo a corpo com os eleitores. Mataram o debate. Para o candidato, tudo se resume a contratar um instituto de pesquisa eleitoral e postar vídeos curtos, com edição acelerada e "engraçadinha", nas redes sociais.

A luta por uma sociedade mais justa, democrática e socialista, ficou debaixo do tapete. Em vez da conscientização de direitos para os trabalhadores, a aposta é convencer os jovens a respeito de empreendedorismo, em tom coaching. Não se escuta mais, nos pronunciamentos dos políticos, a expressão "luta de classes". Enquanto isso, a extrema direita cresce e a esquerda vai ficando sem forças para convocar o povo às ruas. Tudo que interessa é o entusiasmo superficial dos discursos nas convenções que homologam os respectivos candidatos.

Houve um passado no qual os candidatos encarnavam a própria imagem de uma utopia. Na safra atual de políticos - uns conhecidos, outros nem tanto -, procura-se a/o candidata/o confiante, cujo programa esteja verdadeiramente em consonância com as bases comunitárias. Claro que não me refiro a um estadista, longe disso.

 

O que você achou desse conteúdo?