Depois de um governo assombroso, que se proclamou defensor de clubes de tiros em detrimento de bibliotecas, pensamos que o governo atual traria um alívio para as editoras independentes - as pequenas e médias casas editoriais que não são multinacionais, nem ligadas a bancos ou grandes holdings.
No entanto, as ações efetivas em prol de um país leitor não se concretizam. A realidade pós-pandêmica já vinha sendo cruel. O preço do papel duplicou graças ao aumento da demanda por embalagens descartáveis, o varejo entrou em crise, os leitores voltaram aos bares. E as políticas públicas estagnaram.
O governo federal apresenta morosidade inédita nos editais destinados à aquisição de livros literários para as crianças e jovens do país, notadamente os Planos Nacionais do Livro Didático (PNLDs) Literários 2022, 2023 e 2024. A morosidade afeta não só os editores: impacta toda a cadeia/rede produtiva do livro e atinge, diretamente, o público infantil e jovem que estuda em instituições sob a pasta da Educação.
Em paralelo, muitas compras municipais também estão paralisadas, como o tradicional Programa Minha Biblioteca, da cidade de São Paulo. A cidade do Rio de Janeiro, escolhida como capital mundial do livro em 2025, há anos não abre editais para a compra de acervo para escolas e bibliotecas. Há honrosas exceções, mas justamente aquelas que comprovam que a ideia de país leitor continua passando muito, muito longe de uma política pública consistente.
A Liga Brasileira de Editoras é uma associação de mais de 200 pequenos negócios editoriais espalhados pelo Brasil. São as nossas editoras, em geral, as que descobrem autores e autoras brasileiras novas ou resgatam autorias esquecidas. São as que se preocupam com recortes da população à margem dos catálogos de grandes editoras do trade. São as que levam para as páginas dos livros as vozes da diversidade brasileira.
Para além da falta de compras públicas, que já ameaça a viabilidade do setor, também nos preocupa a falta de sinalização quanto ao futuro. Somos partícipes ativos da construção do novo Plano Nacional de Leitura e Escrita (PNLE). Mas ações em prol do país leitor que queremos não podem parar. Afinal, livro e leitura são eixos estruturantes da política cultural e educacional do país.