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O novíssimo Ensino Médio é o velho de banho tomado
Opinião

O novíssimo Ensino Médio é o velho de banho tomado

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A escola está em crise. Essa afirmação, presente em discursos e textos acadêmicos, tem origem no reconhecimento de que a escola perdeu parte da legitimidade que possuía no passado.

Gilles Deleuze, em um curto artigo, publicado no início dos anos 1990, apontou que estamos em um período de transição, de transformação do modelo prevalecente e de soerguimento de um novo arranjo social. De acordo com suas formulações, vivenciamos o estabelecimento da chamada Sociedade do Controle. Nesse contexto, as normativas escolares, criadas no que se convencionou chamar de Sociedade Disciplinar, cujo alicerce se apoiava na padronização de conhecimentos e normas de conduta necessárias para o funcionamento da economia industrial, passam a ter sua eficácia questionada.

No Brasil, a transição entre os modelos sociais tem devastado o Ensino Médio, condição que se revela, anos após ano, na crescente evasão escolar. Nesse cenário, os gestores públicos, procurando superar a crise, buscam reformar as normas curriculares, introduzindo conteúdos, novos componentes e orientando os docentes em suas práticas de ensino. No entanto, em pouco tempo, as propostas são percebidas como incapazes de produzir o efeito desejado e logo são superadas por novas propostas. Desde os anos 1990, experimentamos um círculo vicioso de reformas nas normativas escolares.

Nada indica que a mais recente reforma produzirá um efeito diferente das anteriores e que se mostrará capaz de superar as motivações da crise. Pelo contrário, suas idas e vindas, a disputa na obrigatoriedade dos componentes curriculares, com a retomada da carga horaria das disciplinas tradicionais, revelam que a superação da crise, mais uma vez, tem sido buscada com base nas normativas criadas durante a Sociedade Disciplinar. Infelizmente, o Novíssimo Ensino Médio, com o retorno de parte considerável de sua estrutura anterior, não nos levará ao soerguimento de um novo arranjo escolar. O Novo (Novo) Ensino Médio não passa do velho de banho tomado.

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