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Alexandre Costa: Brasil, que braseiro, que fornalha!
Opinião

Alexandre Costa: Brasil, que braseiro, que fornalha!

O Brasil contabilizou, até o dia 16 de setembro do corrente ano, mais de 186 mil focos de incêndio. Isto equivale a mais do dobro do ano anterior e só é superado, nas últimas duas décadas, pelos anos de 2010 e 2005
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Alexandre Costa. Doutor em Ciências Atmosféricas e professor da Uece. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Alexandre Costa. Doutor em Ciências Atmosféricas e professor da Uece.

"Nossa casa está em chamas". O alerta, lançado pela ativista sueca Greta Thunberg, adquiriu, nas últimas semanas, contornos literais no Brasil.

Sim, nosso país, casa comum de 215 milhões de brasileiros e brasileiras, "mãe gentil" decantada no hino nacional, contabilizou, até o dia 16 de setembro do corrente ano, mais de 186 mil focos de incêndio. Isto equivale a mais do dobro do ano anterior e só é superado, nas últimas duas décadas, pelos anos de 2010 e 2005.

Em que pesem as iniciativas de um governo federal que, ao contrário do antecessor, reconhece a Emergência Climática e conta, à frente do Ministério do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, com Marina Silva, de compromisso inquestionável com a causa ambiental, inúmeros fatores pesam contrárias a uma ação efetiva.

E aí precisamos colocar o dedo em algumas feridas!

O Brasil conta com um legislativo que patrocina abertamente retrocessos na legislação ambiental e tem culpa no cartório na transformação do país em braseiro. Órgãos fundamentais como o Ibama estão longe de recompor seus quadros e estarem devidamente aparelhados para o enfrentamento da catástrofe em curso.

A fornalha do superaquecimento do planeta, por estas bandas, é alimentada como um gigantesco forno à lenha. Desmatamento e queimadas mantêm o Brasil como o número um do mundo em emissões de CO2 por "mudança no uso da terra", eufemismo para devastação, extermínio e ecocídio. Somadas às emissões de outros gases, como o metano produzido pelo gigantesco rebanho bovino brasileiro, 3/4 da responsabilidade do nosso país na conta do aquecimento global advém do agronegócio. Como não questionar a pecuária e o modelo agroexportador vigente, nesse caso?

Dentro do próprio governo parece faltar a unidade interna necessária. A insistência em explorar mais combustíveis fósseis e em querer se eximir das responsabilidades do setor tornam as políticas respectivamente dos ministérios de Minas e Energia e Agricultura obstáculos à ação climática concreta.

A vermelhidão das chamas precisa ser a cor do alerta geral. A emergência climática é o maior desafio jamais posto diante da humanidade. Precisamos de ação à altura.

 

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