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Candidatos a prefeito não estão nem aí
Opinião

Candidatos a prefeito não estão nem aí

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Fabio Angeoletto, professor da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR) (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Fabio Angeoletto, professor da Universidade Federal de Rondonópolis (UFR)

Pesquisadores da Unicamp analisaram os planos de governo dos candidatos à prefeito de todas as cidades do Brasil. Embora a maioria dos candidatos tenha propostas para o meio ambiente, elas são superficiais. Mesmo com tragédias ambientais mais frequentes e intensas, parece que "a ficha não caiu" para os candidatos que pretendem governar nossas cidades.

No âmbito municipal, a questão do meio ambiente é muito mais complexa do que plantar árvores nas calçadas e recolher o lixo. Os fatos que vou narrar ilustram essas complexidade. A síndrome do nariz branco, uma doença contagiosa cuja taxa de letalidade supera os 70%, vem se espalhando entre populações de morcegos nos Estados Unidos. Além dessa epidemia que acomete os quirópteros, a perda de habitats e outros impactos causados pelos humanos prejudicam ainda mais as populações de morcegos. A mortandade dos morcegos aumenta as populações de insetos que eles predam e que são pragas agrícolas. Em outras palavras, agricultores norte-americanos perderam um serviço ambiental, a eliminação de insetos prejudiciais às lavouras. Consequentemente, eles têm pulverizado mais agrotóxicos
em suas lavouras.

O biólogo Eyal Frank calculou o aumento do uso de inseticidas no leste dos Estados Unidos, onde os morcegos estão sendo devastados pela síndrome do nariz branco. Frank também analisou os impactos dos agrotóxicos à saúde humana. Ele descobriu que os agricultores aumentaram o uso de inseticidas em 31%, e que esses venenos causaram um aumento da mortalidade infantil em 8%. Os resultados da pesquisa foram publicados na revista Science (The economic impacts of ecosystem disruptions: Costs from substituting biological pest control).

Na Biosfera nenhuma cidade está isolada, e a execução de políticas ambientais é imprescindível para a agricultura, para a conservação da biodiversidade e dos seus serviços ambientais e para a saúde dos citadinos. Nas cidades do Brasil geralmente o meio ambiente está subordinado a uma secretaria, como a de urbanismo. Erro crasso! Secretarias de meio ambiente autônomas não apenas são uma necessidade, como a atuação de suas equipes deve ser transversal. As Secretarias municipais de meio ambiente devem planejar a dimensão socioambiental das demais Secretarias, garantindo que o governo esteja baseado em técnicas que mitiguem impactos e que preservem a fauna e flora. n

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