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Eleições municipais e o destino das cidades
Opinião

Eleições municipais e o destino das cidades

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Cláudia Leitão, professora da Uece e sócia da Tempo de Hermes Projetos Criativos 
 (Foto: IANA SOARES)
Foto: IANA SOARES Cláudia Leitão, professora da Uece e sócia da Tempo de Hermes Projetos Criativos

Mais da metade da população mundial vive nas cidades e grande parte está submetida à tragédia da desigualdade, da exclusão, dos desastres climáticos, da violência e do desemprego. As cidades são símbolos exemplares das assimetrias do sistema-mundo capitalista.

Em 2017, o urbanista estadunidense Richard Florida no seu livro Crise urbana: como nossas cidades estão aumentando a desigualdade, aprofundando a segregação e falhando com a classe média e o que podemos fazer a respeito, observa que um índice revelador dessas disparidades é o número de horas que levaria um trabalhador médio, em cidades ao redor do mundo, para pagar por um iPhone, objeto paradigmático da economia do conhecimento. Em 2015, na cidade de Nova York, esse trabalhador levaria apenas 24 horas para ganhar dinheiro suficiente que lhe permitisse efetuar a compra, contra 350 horas em Mumbai, 460 horas em Jacarta, e mais de 600 horas em Kiev. Impossível não observar que a globalização, responsável pela criação de centralidades e periferias, é especialmente cruel na ampliação do fosso entre cidades ricas e pobres, descolando a produção econômica e o consumo do território e do desenvolvimento local. Esse quadro expressa a face sombria das cidades, seja por meio dos incessantes e dramáticos fluxos migratórios, seja pelo crescimento exponencial de doenças, seja pelas constantes ameaças à vida, face aos acidentes asmbientais.

Causa indignação observar que parte expressiva dos governantes municipais produz intervenções urbanas desconexas do desenvolvimento sustentável das cidades, sobretudo, na superação da pobreza. No caso brasileiro, não são exceções os prefeitos e prefeitas que privilegiam intervenções cosméticas, em áreas turísticas, em detrimento da criação de infraestrutura básica, sobretudo, nos bairros de periferia, cada vez mais perigosos e inabitáveis. Expansão não significa desenvolvimento. É o caso de Fortaleza, que hoje é a quarta maior cidade do Brasil. O que isso significa? Uma boa pergunta a ser respondida pelos atuais candidatos às eleições municipais. n

 

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