Logo O POVO+
Renato Abê: E o eleitor quer saber de Cultura?
Opinião

Renato Abê: E o eleitor quer saber de Cultura?

A arte nunca precisou de uma pretensa erudição para ter força. Defendo que, coletivamente, precisamos pensar em todas as ferramentas que temos para democratizar o real potencial dessa área
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Foto do Articulista

Renato Abê

Graduado em Jornalismo pela Universidade Federal do Ceará e pós-graduado em Artes Cênicas pela Casa das Artes de Lara...

Nós, que trabalhamos com Cultura, acabamos esvaziando o sentido das palavras num movimento, quase involuntário, de repetição. Potências, atravessamentos, afetos, empoderamentos, tensionamentos e ocupações são exemplos.

Poderia listar mais uma dezena dessas expressões que, de tão usadas, vão se desviando, pouco a pouco, dos seus significados mais concretos. Não nos julgo, essa construção de vocabulário parte das complexidades da área com a qual trabalhamos.

Unindo conceitos de política, economia, urbanismo e tantos outros setores, o campo cultural é um terreno amplo demais que, para muita gente, pode soar como um enigma. Ouvi, dia desses, de uma estudante de Jornalismo, que ela não se sentia apta a trabalhar com esse segmento por não se sentir "intelectual" o suficiente. Acolhi a fala dela e não tive muitos argumentos.

Lendo a reportagem "Cultura em Fortaleza: quais as propostas dos principais candidatos", publicada pela jornalista Lara Montezuma no Vida&Arte no último dia 24/9, fiquei pensando em como esse ramo consegue verdadeiramente se comunicar como os eleitores que constroem a Capital.

Será que o fortalezense acha a conversa toda "intelectual demais" e, portanto, não se interessa o suficiente? Não tenho respostas, tenho preocupações. Entre as propostas apresentadas pelos candidatos (algumas bem elaboradas, inclusive), há uma sensação generalizada de distanciamento. Não falamos de Cultura como propriedade cotidiana.

Não que eu esteja vestindo aqui o discurso elitista de que há um "povão" que não entende "palavras difíceis" e a cultura precisaria, portanto, ser "simplificada". Definitivamente, não. A arte nunca precisou de uma pretensa erudição para ter força. Defendo que, coletivamente, precisamos pensar em todas as ferramentas que temos para democratizar o real potencial dessa área.

Mais uma vez coadjuvante nos debates eleitorais, esse segmento é vivo no dia-a-dia de todos nós. Dos alimentos que consumimos às roupas que vestimos, do artesanato vendido na feirinha ao grande filme em cartaz nos cinemas: estamos cercados pelo campo cultural por todos os lados, mas talvez as palavras e seus sentidos (mas, claro, não só isso) ainda estejam nos atrapalhando a comunicar isso bem. Comecemos pela fala para ampliar em ações.

O que você achou desse conteúdo?