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Rodrigo Chaves de Mello: Sobrala, a cidade, a história e o eleitor
Opinião

Rodrigo Chaves de Mello: Sobrala, a cidade, a história e o eleitor

Há cenários em que o jogo fica complexo e as gradações de cinza se destacam entre o preto e o branco. Arrisco ser este o caso de Sobral. Tendo como pano de fundo um ciclo político de quase três décadas, as alternativas entre continuidade e mudança precisam ser colocadas em perspectiva
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Rodrigo Chaves De Mello

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Afastando-se da imagem do teatro extraordinário de políticos iracundos em comícios, carreatas e chuvas de santinhos, para os analistas políticos, em geral, eleições não passam de disputas entre continuidade e mudança. Nessa perspectiva, se assemelhariam a um tipo de jogo no qual o eleitor pondera sobre os custos e benefícios de escolher entre as alternativas A ou B. Simples assim.

Todavia, há cenários em que o jogo fica complexo e as gradações de cinza se destacam entre o preto e o branco. Arrisco ser este o caso da atual disputa em Sobral. Tendo como pano de fundo um ciclo político de quase três décadas, as alternativas entre continuidade e mudança precisam ser colocadas em perspectiva.

Capitaneado pelos Ferreira Gomes e seus consortes, este ciclo trouxe transformações importantes à cidade. Dados do IBGE mostram que, entre 1991 e 2010, a esperança de vida subiu de 60 para 75 anos, a população vulnerável encolheu de 82% para 51% e o IDH pulou de 0,406 para 0,714. Entre 2000 e 2022, o índice de Gini recuou de 0,62 para 0,56, o IDEB avançou de 3,5 para 7,86 e o orçamento municipal ultrapassou a casa dos bilhões.

Ainda que parciais e fragmentados, os dados revelam o resultado desse legado político: embora permaneça marcada pela desigualdade e pela pobreza, a cidade experimentou avanços significativos em seu desenvolvimento social.

Com efeito, considerando o acúmulo das contradições próprias de um ciclo longo, é impossível aos que concorrem pela continuidade fazê-lo sem se comprometer com um robusto horizonte de mudanças. Por seu turno, ante o peso de uma história que se cristaliza em indicadores de políticas públicas, é plausível que os que prometem mudanças estejam fadados a abraçar uma forte agenda de continuidades.

Certa feita, o poeta Mário Quintana escreveu que "o passado não reconhece seu lugar: está sempre presente". Em 6 de Outubro, diante da urna e fitando o futuro, o eleitor sobralense irá deliberar sobre os últimos trinta anos da cidade. Em algumas horas, recorrendo ao jargão popular, descobriremos se a maioria optará por ver copo meio cheio ou meio vazio.

 

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