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Samuel Arruda: O tempo da democracia
Opinião

Samuel Arruda: O tempo da democracia

Só se aprende a votar, votando. E estamos em pleno processo de aprendizado.
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Samuel Arruda

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Neste mesmo espaço, já fiz contundentes críticas a imperfeições da nossa democracia e de nosso sistema político. Concluída a votação do primeiro turno das eleições municipais, é o momento de fazer um balanço parcial um pouco mais otimista.

É que o Estado de Direito pressupõe estabilidade, instituições fortes e a formação de uma cultura de respeito às regras plasmadas na Constituição Federal. Não se o constrói de um dia para o outro. Em um país com largos hiatos ditatoriais e autoritários, precisamos celebrar a continuidade da democracia e a oportunidade de renovar os ocupantes de cargos eletivos periodicamente.

Embora tenhamos a salutar expectativa de uma rápida evolução dos nossos costumes políticos, é sempre bom recordar que Estado de Direito e Democracia são conceitos recentes em termos históricos em nosso país. Quando analisamos exemplos de outros países, vemos que os Estados Unidos têm mais de dois séculos de aplicação contínua de sua Constituição; o Reino Unido, por sua vez, tem instituições quase milenares.

O Brasil, por outro lado, não completou ainda 40 anos contínuos de regime democrático. É muito pouco. Estamos ainda aprendendo a exercer a cidadania. Precisamos ser generosos com nossa jovem democracia. Falta-nos tempo.

Quando se analisa a questão sob essa perspectiva, temos muitos motivos para comemorar. Embora com alguns percalços, a campanha eleitoral desenvolveu-se livremente, com ampla possibilidade de divulgação de ideias e propostas. É certo que os candidatos nem sempre fizeram bom uso dessa oportunidade.

Os eleitores, por sua vez, tampouco estiveram atentos aos projetos e preferiram nortear seus votos a partir de critérios menos nobres. Paciência! Só se aprende a votar, votando. E estamos em pleno processo de aprendizado. Há coisas que não se podem apressar. A maturidade de nosso sistema político e de nossa democracia não será alcançada milagrosamente, de uma hora para a outra.

Foi gratificante constatar que o dia das eleições foi marcado por absoluta normalidade. Mais de 150 milhões de brasileiros foram às urnas com tranquilidade e segurança. As forças policiais e as forças armadas em todo o país auxiliaram a Justiça Eleitoral e garantiram o livre exercício do voto nos mais distantes rincões.

Embora a influência do crime organizado sobre o território urbano seja uma preocupação, a democracia não foi corrompida nem derrotada.

As escolhas foram feitas por meio de um sistema de votação que é simples, rápido e seguro e que deveria nos orgulhar. Paulatinamente, vê-se que os questionamentos ao voto eletrônico vão perdendo força e vai se firmando a impressão correta de que é possível confiar na Justiça Eleitoral.

Mais uma vez, o Brasil deu ao mundo um exemplo de excelência na organização de suas eleições. Os resultados foram rapidamente divulgados e expressaram fidedignamente a vontade do eleitorado, em linha com as pesquisas eleitorais.

Os analistas políticos farão observações diversas quanto aos vencedores e vencidos. Do ponto de vista da nossa evolução democrática, não tenho dúvidas de que vencemos todos. Obviamente, não podemos ser ingênuos e achar que celebramos uma festa da democracia - clichê tão utilizado nesses períodos pós-eleitorais.

Mas temos uma democracia forte, instituições que vão se solidificando, uma Justiça Eleitoral que é exemplo de eficiência na organização do pleito e vamos ganhando lentamente experiência na vivência democrática. Em algumas décadas - ou em algumas gerações - chegaremos à plena maturidade. O tempo da democracia não é o tempo de um mandato e precisamos respeitar essa temporalidade. n

 

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