A oposição tinha uma montanha para escalar. E escalou. Abertas as urnas, o eleitor de Sobral se fez ouvir: após décadas de hegemonia, o reinado dos Ferreira Gomes chegou ao fim.
Com 52,47% dos votos, Oscar Rodrigues (União) derrotou, a um só tempo, a ex-governadora do Estado, a ex-número dois do MEC e a ex-primeira dama da cidade; a força da aliança PT-PSB; e uma tropa de cabos eleitorais formada pelos irmãos Ivo e Cid Gomes, o governador Elmano de Freitas, o ministro Camilo Santana e o presidente Lula.
Explicar o que se passou demanda olharmos para dois fronts: as estratégias da chapa vitoriosa e as vicissitudes do bloco derrotado.
O resultado é fruto de um grupo que se consolidou como única referência da oposição municipal, mesmo após as derrotas em 2016 e 2020. Ao longo da campanha, a candidatura mirou em temas pedestres, como taxa do lixo, multas de trânsito, desemprego, fechamento de comércios de rua, insegurança e até perseguições ao alto clero da cidade. A cada um deles, o destinatário de sempre: o poder público municipal.
Ao longo de todo pleito, Oscar Rodrigues foi hábil em manejar as armas da campanha negativa. A estratégia se mostrou eficaz. Ao criticar o prefeito, ele não confrontou apenas Ivo Gomes, mas a linha sucessória que o antecedeu e que, caso a cidade não reagisse, elegeria Izolda Cela (PSB) por inércia.
O resultado, contudo, não foi apenas vitória da oposição. Dado o calibre dos vencidos, a derrota da situação também se destaca. A ela, ao menos cinco elementos parecem ter concorrido: 1) as medidas impopulares de Ivo Gomes na reta final de seu mandato; 2) a misoginia do eleitorado sobralense; 3) a persona pública pouco beligerante de Izolda; 4) o racha entre os Ferreira Gomes; 5) a presença de facções criminosas no jogo eleitoral.
Desde já, algumas questões se colocam no horizonte: a cidade se converterá em um flanco à atuação da direita no estado? Como Izolda e os Ferreira Gomes atuarão na oposição? Novos grupos políticos se formarão?
No jogo da democracia, alternâncias de poder são movimentos complexos e com resultados incertos. Só o tempo nos dirá os caminhos que Sobral tomará. n