É verdade que o sertanejo, diante da ausência da escola e de uma fonte de renda sustentável, comportou-se alheio aos desmandos dos coronéis e obediente à pregação da Igreja Católica conservadora da época. Contudo, jamais abandonou a perspectiva de um dia se alfabetizar, melhor se informar e divulgar seus conhecimentos. Diante do atraso da comunicação jornalística, foi através da oralidade que ele passou a se informar. Daí a ansiedade de divulgar as novidades, seja pelos repentistas, violeiros, seja pelos cordéis e xilogravuras impressos nas gráficas mais baratas.
Lendo uma matéria de jornal de 1958, observei o retrato da autenticidade nordestina, um senhor negro vendendo seus folhetos na feira de Juazeiro do Norte, cercado por curiosos. Essa obstinação em se reconhecer, quando a pessoa de pouca instrução se dispõe a divulgar a riqueza em sua mente, motivou a luta pela educação do homem do campo. Por isso, a importância da literatura popular como divulgação da nossa cultura.
Arievaldo Vianna, dos Sertões de Canindé, em meio à vastidão de livros e cordéis publicados, foi um folclorista. Não possuía a intelectualidade de Gilmar de Carvalho, tampouco a genialidade de Juvenal Galeno ou de Leonardo Mota, mas conhecia o seu povo em todos os sentidos. Por isso a felicidade da Bece em homenageá-lo com o nome da Cordelteca recentemente inaugurada. Seu projeto "Acorda Cordel na Sala de Aula", revolucionário enquanto fazer entender nossas raízes, fez-me recordar o professor José Silva Novo, que conviveu com os tremembé de Almofala, então isolados, "vendo almas", à luz de lamparina, e levá-los para as escolas e para a "cidade", onde triunfaram em concurso folclórico estadual.
Cordel é o resumo das tradições, mais do que um simples folheto, é o nosso retrato, a nossa contação de histórias diante da carestia das editoras tradicionais. Reconhecido pelo Iphan, em 2018, como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro, é o caminho da educação artística, nosso orgulho, a alma nordestina.