As eleições deste ano em Acopiara marcaram a saída do grupo de situação do poder, ou ao menos, por ora. Dr. Vilmar (PSB), o principal opositor, foi eleito com mais de 4 mil votos à frente de Fábia Almeida (MDB), sobrinha e candidata do prefeito Antônio Almeida (MDB). Foi a maior vantagem registrada na cidade, entre os grupos.
A campanha repetiu tendências. Não é a primeira vez que Vilmar derrota um parente de Antônio. Em 2012, foi Robinho, outro sobrinho.
Também não é inédito um racha na base junto de uma vitória na oposição. Assim como o Doutor, Antônio Almeida alçou-se pela segunda vez à Prefeitura, em 2004, em um cenário de rompimento da chapa eleita. Vilmar era, então, vice da prefeita Sheila e rompeu com ela. Os votos se dividiram.
Mas a tradição acaba aí. O rompimento de Antônio Almeida com a vice Ana Patrícia (Republicanos), terceira concorrente deste ano, ocorreu em um cenário muito mais complexo, repleto de acusações da Justiça contra o gestor, por inúmeros crimes. Houve três afastamentos e três retornos; denúncias de descaso na saúde municipal, na educação.
Assim, o prefeito enfrentou a campanha com a imagem, no mínimo, prejudicada. Além dos desafios na gestão, perdeu fortes aliados, dentre eles o PT. Fora a eleição de 2016 - na qual a sigla lançou candidato próprio - o partido sempre esteve nas letras miúdas, na coligação de Almeida. Agora, apoiou fortemente Vilmar. Foi como uma bomba na cidade.
Tudo indicava uma derrota expressiva como, de fato, ocorreu. Mas se o prefeito caiu, caiu atirando. Mesmo sem o apoio do PT, conseguiu um vídeo do ministro Camilo Santana (PT), figura mais que querida em Acopiara.
Movimentou cabos eleitorais e puxou aliados dos concorrentes. Até a candidata a vice de Ana Patrícia zarpou com ele. A campanha foi tão intensa que, nos dias finais, ouviu-se de pessoas próximas dos opositores: "A galega [Fábia] só não ganha se quem prometeu votar nela, mude na urna". Pelo visto, o fizeram. Agora, questiona-se se esse hiato irá se perpetuar.
A imagem está manchada, mas o legado é longo demais para se esvair em um único pleito. Da última vez que saíram, também para Vilmar, os Almeidas voltaram nas eleições seguintes e estão até agora. São três parentes ex-gestores municipais (pai, filho e primo). Oito mandatos. Só Antônio soma quase 20 anos no Executivo.
É um poder hereditário, que faz com que a população associe avanços sociais ao grupo, que os queiram bem. Agora a oposição tem chance de deixar sua marca, tentar uma permanência. E fazer melhor. A população merece.