Há quem associe a transparência à corrupção ou ao dever informacional no âmbito público, bem como às relações negociais privadas amparadas pela eticidade e boa-fé. No entanto, o conceito de transparência se estende a outros processos sociais de comunicação e informação, incluindo as interações nos espaços virtuais. Byng-Chul Han oferece uma perspectiva crítica à acepção de transparência, especialmente no contexto digital, ao que denomina de "sociedade da transparência".
A sociedade da transparência tem como características a comunicação fluida, permanente, translúcida, marcada pela positividade superficial. Participar desse modelo social significa, em grande parte, renunciar à privacidade em troca de visualizações e curtidas numa "obsolescência programada" de atividades individuais objetivadas à métrica do sucesso. Han destaca que esse comportamento leva a um estado de vigilância continuado em que os indivíduos se tornam propagandistas de si mesmos.
Curiosamente, durante o período colonial brasileiro, a privacidade era um bem raro e intensamente desejado. Naquela época, o Brasil era pobre, as casas mal tinham fechaduras e a intimidade era frequentemente invadida pelos olhares intrometidos que espreitavam pelas frestas dos muros ou rachaduras das portas, conforme relatou a historiadora Mary Del Priore. Hoje, ocorre o oposto: a exposição da intimidade tornou-se essencial para se viver nesse universo de perfeições aparentes.
Celebramos o mundo conectado graças as múltiplas vantagens trazidas ao dia a dia. A internet trouxe avanços significativos a diversos setores sociais, mas a crítica reside na falta de reconhecimento dos limites da exposição e na violência neuronal e exaustiva causada pelo uso das redes sociais que afetam milhares de brasileiros.
O psiquiatra Augusto Cury, respeitado internacionalmente por estudar o comportamento humano, alerta que a constante pressão para estar sempre em alto desempenho pode resultar em transtornos emocionais, como ansiedade, angústia e depressão. À medida que avançamos na era digital, a transparência excessiva transforma a privacidade em uma mercadoria vulnerável, enquanto a cultura da exibição se solidifica como uma nova norma social. É crucial refletir sobre as consequências dessa dinâmica e buscar um equilíbrio que preserve os valores essenciais das relações humanas e da individualidade.