Logo O POVO+
Renata Marinho Paz: Quentura e sanha arboricida
Opinião

Renata Marinho Paz: Quentura e sanha arboricida

É incompreensível e revoltante ver ao longo dos anos a retirada quase diária de árvores das vias públicas, mesmo em períodos de calor causticante
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Foto do Articulista

Renata Marinho Paz

Articulista

O debate sobre as mudanças climáticas que afetam nosso planeta às vezes parece distante, coisa a ser feita por cientistas e grandes líderes mundiais. Todavia, o calor sufocante, a baixa umidade e as queimadas fazem parte de nosso cotidiano e, especialmente nesses meses conhecidos como "br-o-bró", acabam afetando diretamente a nossa saúde e a nossa qualidade de vida.

A cidade de Crato, situada no sopé da Chapada do Araripe, parece padecer de um grande paradoxo: ao mesmo tempo que reproduz discursos sobre a pujança verdejante do microclima da região, é implacável com as suas árvores. A facilidade com que as cortam é impressionante. É incompreensível e revoltante ver ao longo dos anos a retirada quase diária de árvores das vias públicas, mesmo em períodos de calor causticante.

O município, em tese, oferece o serviço de autorização de poda de árvore. Em tese porque no site da prefeitura a aba para esta tarefa, sob responsabilidade da Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente, informa "serviço não encontrado". A ausência da municipalidade e, principalmente, a sanha arboricida de parte de seus habitantes tem contribuído para que o Crato esteja se tornando uma cidade mais quente e menos bela.

Embora seja outra escala e outra realidade, vale mencionar a experiência de Brasília, onde os cortes ou mesmo as podas são precedidas de avaliação e autorização da administração da cidade, que é a responsável pela execução do serviço, sob pena de multas efetivas e, principalmente, da mobilização dos moradores contra cortes desnecessários, pois sabem que é fundamental garantir a arborização do lugar.

Não estou afirmando que funcione perfeitamente, mas apontando para a importância da articulação entre a gestão pública e os habitantes neste sentido. Uma ação micropolítica, rizomática, é imperante. Neste sentido, não custa lembrar os preceitos do cratense Padre Cícero que, a este respeito, dizia: "Plante cada dia pelo menos um pé de algaroba, de caju, de sabiá ou outra árvore qualquer, até que o sertão todo seja uma mata só".  

O que você achou desse conteúdo?