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As emoções que rondam o segundo turno em Fortaleza
Opinião

As emoções que rondam o segundo turno em Fortaleza

Ilaria Gaspari afirma que escolher a flexibilidade das emoções é uma decisão política. Para ela, o campo das "direitas rígidas" em expansão pelo mundo tem a ver com o medo diante de uma postura mais transformadora e flexível
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Umas das mesas mais interessantes da Flip de 2024, que terminou no último domingo, foi a que pôs em cena as emoções e a literatura. Na conversa, duas jovens mulheres, a filósofa e romancista italiana Ilaria Gaspari e a mineira Marcela Dantés. Enquanto Ilaria realiza um verdadeiro inventário das emoções a partir da filosofia no seu livro "A vida secreta das emoções, Marcela tenta esmiuça a solidão extrema que assola a contemporaneidade na obra "Nem sinal de asas".

Ouvir uma filósofa que faz literatura do pensar e uma escritora que cria histórias a partir de notícias de jornal se tornaram para mim um refúgio após o primeiro turno das eleições municipais. Enquanto lia jornais, espiava mapas e mergulhava nas análises tentando decifrar como discursos de direita e extrema direita foram vitoriosos nos quatro cantos do Brasil e pessoas como o deputado mineiro Nikólas Ferreira se tornaram modelo político, além de observar a votação por bairro em Fortaleza, pensei, inúmeras vezes o quanto sabemos pouco do que realmente acontece não só no Brasil, mas em Fortaleza mesmo, nos rincões da cidade.

Acompanhar a movimentação política neste segundo turno das eleições é verificar como as emoções pautam as decisões políticas. Os analistas, claro, focam na história, nas conveniências partidárias, mas ao fim e ao cabo é possível ver como a frustração, o desejo de vingança, o ressentimento, a raiva engolida a seco e transformada em discurso ou silêncio transbordam.

E, emocionalmente falando, ninguém é muito diferente. No entanto, existem aqueles que, segundo Ilaria Gaspari, se deixam transformar, se deixam ficar maleáveis. A filósofa italiana afirmou ainda que escolher a flexibilidade das emoções é uma decisão política. Para ela, o campo das "direitas rígidas" em expansão pelo mundo tem a ver com o medo diante de uma postura mais transformadora e flexível.

Ter maleabilidade emocional é que dá resistência, considera a filósofa. O discurso da escritora parecia em consonância com a situação política de Fortaleza, às vésperas de um segundo turno para as eleições municipais. Lembrei-me de alguns dos posicionamentos do agora candidato à prefeitura André Fernandes (PL), que se auto define como o candidato "da mudança e a libertação de Fortaleza". Lembrei-me de discursos contra a vacina, por exemplo, e de como atacou todas as decisões tomadas pelo então prefeito Roberto Cláudio e governador Camilo Santana durante o enfrentamento da pandemia da Covid-19.

Também lembrei-me de como é rígido o pensamento da direita extrema que esse rapaz representa e que arrebanha jovens - homens e mulheres - Fortaleza abaixo e acima. Não falo da campanha política, entregue a profissionais de marketing, falo da sua livre manifestação em discursos no Congresso, em vídeos, em podcasts. Por tudo isso, entendi quando Ilaria Gaspari falou em rigidez emocional. Ver o ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) optando por esse discurso rígido e retrógrado da extrema direita local foi mais difícil do que encarar a Marina Silva optando por Aécio Neves em 2014, Ciro Gomes indo refugiar-se em Paris, em 2018, e acompanhar o voto de Cristóvão Buarque em favor do impeachment da Dilma, em 2015.

 

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