O 7 de outubro de 2023 trouxe a questão palestina de volta ao centro do debate internacional. Enquanto a China mediava os esforços de aproximação pragmática entre Arábia Saudita e Irã - na esteira da normalização das relações diplomáticas entre os países do Golfo e Israel - o Hamas fez uso da violência política terrorista para alertar que a nova equação regional não poderia ser montada à revelia dos direitos dos palestinos.
O mundo permanece falando sobre a autodeterminação palestina, mas ao custo da ofensiva brutal sobre Gaza conduzida por Benjamin Netanyahu. Amplificando os combates, o Premier escalou seus ataques contra o Líbano, cujas vidas parecem tão dispensáveis quanto as palestinas. A regionalização da guerra também inclui bombardeios no Iêmen, Mar Vermelho, Síria, Iraque e Irã.
A escalada das hostilidades na região servirá para vencer a guerra? Netanyahu se limita a salvaguardar sua permanência imediatista no poder, já que a ampliação da guerra não pressupõe uma estratégia de longo prazo. Nesse sentido, não contribuirá para o retorno dos reféns, não promoverá retorno dos deslocados internos, não conduzirá a uma solução permanente da questão palestina, não eliminará nem Hamas nem Hezbollah, tampouco contribuirá para uma equação securitária equilibrada e estável das forças regionais.
A um só tempo o militarismo fomenta a extrema direita israelense e acena para figuras ultranacionalistas do governo de coalizão, dá fôlego a uma gestão sob graves acusações de corrupção, redireciona as atenções para fora do front de Gaza, aplaca a opinião pública israelense e fortalece os grupos não-estatais armados na região, promovendo a ideia de que não há outra alternativa que não a violência.
Do mesmo modo que não requer negar uma tragédia para apontar outra, uma mentira repetida inúmeras vezes não faz dela uma verdade. A continuidade da guerra parece testar não somente os limites da legitimidade israelense como a efetividade e credibilidade das instâncias multilaterais. Há muito os palestinos se sentem abandonados pelas normativas do direito internacional - esse conceito de comunidade internacional pouco lhes serviu até o momento. A nós, nos resta questionar quais valores democráticos e humanistas queremos enquanto nação e em que sociedade global desejamos viver.