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Joaquim Cartaxo: A imaginação em crise
Opinião

Joaquim Cartaxo: A imaginação em crise

A indústria cultural, por exemplo, reproduz os mesmos conceitos e histórias, como nos remakes, sequências e adaptações de obras já consagradas, reduzindo o risco e buscando assegurar o sucesso comercial
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Joaquim Cartaxo

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No século XXI, constatamos a diminuição da capacidade coletiva de desenvolver ideias transformadoras; da competência de conceber futuros desejáveis, conectados às inovações disponíveis; e das possibilidades de mudanças sociais: a imaginação está em crise. Este déficit relaciona-se a fatores que configuram a forma como os indivíduos e as sociedades veem e se veem no mundo, o que envolve a falta de criatividade e a dificuldade de conceber opções políticas, socioeconômicas, culturais e socioambientais ao sistema vigente.

A proliferação de mídias sociais e de plataformas digitais, além da constante exposição a estímulos visuais contribui para constituir um ambiente onde a imaginação encontra adversidades, como as narrativas pré-construídas que restringem as formas e os conteúdos aos moldes do que é facilmente comercializável.

A indústria cultural, por exemplo, reproduz os mesmos conceitos e histórias, como nos remakes, sequências e adaptações de obras já consagradas, reduzindo o risco e buscando assegurar o sucesso comercial. A tendência dominante é o uso de fórmulas repetitivas que refletem o desinteresse em explorar novas fronteiras, reduzindo a proposição de novas maneiras de ver, pensar e experimentar o mundo.

É importante lembrar que há produção de obras criativas, inovadoras, surpreendentes. Logo, a crise não é universal, nem afeta todas as culturas igualmente. Em contextos de crises expressivas ou desigualdades sistêmicas, a imaginação continua sendo uma ferramenta poderosa para sobreviver e resistir. Movimentos sociais e culturais em diversas partes do mundo têm usado a criatividade para conceber novos modos de vida, políticas de inclusão e práticas sustentáveis, desafiando as estruturas dominantes dos sistemas políticos e socioeconômicos estabelecidos, que limitam ou rejeitam teorias e práticas que podem influenciar a sociedade de forma mais intensa para a transformação.

Embora a criatividade individual continue a florescer, o potencial coletivo de imaginar, criar, renovar e reaprender apresenta sinais de letargia diante da crise em questão. É necessário repensar com intensidade as nossas estruturas socioeconômicas, políticas e culturais, bem como estimular o pensamento crítico e a inovação real. É urgente imaginar. n

 

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