Henrique Araújo é jornalista e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com mestrado em Sociologia (UFC) e em Literatura Comparada (UFC). Cronista do O POVO, escreve às quartas-feiras no jornal. Foi editor-chefe de Cultura, editor-adjunto de Cidades, editor-adjunto de Política e repórter especial. Mantém uma coluna sobre bastidores da política publicada às segundas, quintas e sextas-feiras.
Ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT) saiu da derrota de 2022 com capital pessoal relativamente preservado, mesmo com o 3º lugar e o sucesso de Elmano de Freitas (PT) ainda no 1º turno do pleito estadual.
Nos dois anos que se seguiram, o pedetista manteve figurino de opositor ao governo petista, fincando bandeira num terreno onde teria de competir por protagonismo com Capitão Wagner (União Brasil) e André Fernandes (PL).
Nessa batalha, granjeou prestígio operando uma crítica qualificada, sob chave econômica, e explorando vulnerabilidades concretas da nova gestão.
Como resultado desse acúmulo, RC chegaria a 2024 parcialmente recuperado do fracasso de dois anos antes, a ponto de encabeçar a lista de alternativas para concorrer a terceiro mandato no Paço Municipal, tese sustentada dentro e fora do PDT, por aliados e adversários, entre os quais o senador Cid Gomes (PSB), para quem ele era de fato o candidato, e não José Sarto.
O prefeito, contudo, acabou por pleitear a reeleição, obtendo 11% dos votos e se tornando o primeiro chefe do Executivo da metrópole cearense a não se reconduzir para mais quatro anos.
Até aí, a despeito do tombo de Sarto e da erosão da influência do ex-presidenciável Ciro Gomes, RC conseguira se proteger, salvaguardando um prestígio que começaria a se comprometer, no entanto, quando declarou apoio a Fernandes.
E não apenas por se tratar de um personagem cuja conduta havia tentado sabotar ações do então gestor quando da pandemia de Covid-19, mas porque, no geral, o candidato do PL representava o avesso do que RC era como homem público, nos valores e nas ideias.
Sob qualquer ângulo, portanto, a composição do PDT "cirista" com o bolsonarismo significava um cavalo de pau na trajetória do ex-prefeito, levando-o a uma aposta muito alta – mais ainda do que a de entrar na briga eleitoral de 2022 pelo Abolição ou a de sustentar a candidatura de Sarto neste ano. Em ambos os episódios, perder era parte do jogo.
É diferente do revés de agora, do qual apenas Fernandes emerge como ganhador (quase metade dos votos é bastante coisa), enquanto a RC restou somente o desgaste de um insucesso nas urnas que não era contratualmente dele e, mais importante, o de ter-se associado a figuras como o vereador Inspetor Alberto (PL).
Política como cenário. Políticos como personagens. Jornalismo como palco. Na minha coluna tudo isso está em movimento. Acesse minha página
e clique no sino para receber notificações.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.