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David Moreno Montenegro: Sobre eleições e futuros a construir
Opinião

David Moreno Montenegro: Sobre eleições e futuros a construir

A campanha do candidato de extrema-direita em Fortaleza, para o espanto de muitos, conquistou enormes parcelas de eleitores jovens, atraiu franjas precarizadas da classe trabalhadora, aglutinou, igualmente, setores empresariais responsáveis pela oferta desses mesmos empregos precários
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David Moreno Montenegro. Doutor em Sociologia. Professor de Sociologia do IFCE e do Mestrado em Avaliação de Políticas Públicas da UFC. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal David Moreno Montenegro. Doutor em Sociologia. Professor de Sociologia do IFCE e do Mestrado em Avaliação de Políticas Públicas da UFC.

A disputa pela prefeitura de Fortaleza entrará para a história pelo acirramento. Muitas análises interpretaram, e com razão, o candidato André Fernandes como uma ameaça à democracia. Diante do resultado eleitoral, é forçoso reconhecer que sua liderança carismática e seu campo político conquistaram metade do eleitorado fortalezense.

A campanha do candidato de extrema-direita, para o espanto de muitos, conquistou enormes parcelas de eleitores jovens, atraiu franjas precarizadas da classe trabalhadora, aglutinou, igualmente, setores empresariais responsáveis pela oferta desses mesmos empregos precários.

Atravessou as periferias de ponta a ponta, mobilizou setores informais da economia, religiosos ligados à teologia da prosperidade, profissionais da segurança pública e incorporou os discursos do empreendedorismo como saídas individuais para o contexto de crise. Entender o que nos levou a este quadro ainda é enorme desafio.

Nesse contexto, lembro o psicanalista Contardo Calligaris quando dizia que para interpretar os sentidos da existência precisamos compreender a vida concreta. Pois bem, Fortaleza ostenta níveis de violência jamais vistos, com territórios inteiros em guerra conflagrada entre facções criminosas pelo domínio dos mercados ilegais, tornando vítimas preferenciais nossas juventudes negras e periféricas.

Além disso, as mudanças estruturais nas dinâmicas regulatórias do trabalho e da previdência, bem como o sequestro do orçamento público pelas poderosas forças do mercado e dos setores rentistas, aprofundados nos últimos dez anos, aumentaram as desigualdades e estreitaram ainda mais os horizontes de expectativa de uma população amedrontada e desiludida em relação ao futuro.

Impossível não lembrar quando o antropólogo Darcy Ribeiro afirmou que nossa classe dominante é herdeira dos senhores de escravizados que se opõe com violência à construção de um país mais justo. Antes dele, o escritor Lima Barreto declarou, em seu Diário Íntimo, todo amor às pessoas simples e seu ódio aos pedantes e presunçosos.

Enfrentar os privilégios dos dominantes, garantir trabalho digno, segurança nos territórios e direito ao sonho às juventudes são algumas das respostas que o campo progressista deve apresentar, ou veremos o futuro dar adeus, de forma definitiva, ao país do futuro.

 

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