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Allan César Bandeira Chaves Junior: Experiência exige desejo
Opinião

Allan César Bandeira Chaves Junior: Experiência exige desejo

.Procuro resposta no desejo e me apego a ele pois, para que haja experiência é necessário movimento e isso exige desejo. Desejo que carrega um duplo, pois ele é o único que é capaz de nos aprisionar
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Allan César Bandeira Chaves Junior.  Acadêmico de Psicologia da Unifor. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Allan César Bandeira Chaves Junior. Acadêmico de Psicologia da Unifor.

Enquanto acadêmico de Psicologia tenho pensado no que tem o poder de atravessar nossas existências e me deparo com o sentido mitológico, pois transcende explicações simples e racionais. Esse sentido mitológico, comumente associado a algo distante da vivência real, aqui adquire o sentido inverso, pois faz referência àquilo que pode ser sentido, pouco importa se aconteceu de fato ou é fruto da fantasia, mas que atravessa o sujeito de forma tão radical que tem o poder de permanecer e até mesmo de ser transmitido para a geração seguinte.

Walter Benjamin talvez possa trazer algum esclarecimento acerca do que escrevo. Para esse ensaísta alemão a experiência, diferentemente da vivência, é tão potente que é capaz de afetar para sempre o psiquismo. Em um tempo no qual imperam as exigências de evidências, de vivências técnicas, para onde foram nossas experiências demoradas e sensíveis?

Procuro resposta no desejo e me apego a ele pois, para que haja experiência é necessário movimento e isso exige desejo. Desejo que carrega um duplo, pois ele é o único que é capaz de nos aprisionar sendo, no entanto, apenas ele que pode nos manter em movimento. Reside aí minha preocupação pois, para que o desejo se manifeste há um preço: a falta. Tamanha exigência, no nosso tempo, é motivo de profunda angústia e, nas crianças, o efeito da falta de falta é desolador.

O tédio, que antecede a brincadeira; o ócio que possibilitou que povos criassem narrativas sobre suas realidades já quase não existe mais e é esse o perigo. O "fazer nada", quando bem sentido, nos direciona por um caminho muito parecido com o do Infante, do poema de Fernando Pessoa, Eros e Psique. No poema, o destino do Infante é despertar uma princesa que dormia eternamente, coberta por uma grinalda de hera. Com muito esforço o Infante a encontra e, ao descobrir sua face, vê que ele mesmo era a princesa que dormia. Talvez seja esse o destino da fantasia, da palavra e do amor, pois quando se experiencia profundamente nos deparamos com o que há de mais estranho e familiar: nós mesmos.

 

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