Escrever sobre a relação Trump-Dolar-Prime Rate-SELIC e as consequências dessa relação sobre a economia brasileira não é tarefa fácil porque são muitos os entes econômicos envolvidos e muitas as ligações entre as variáveis e parâmetros no sistema econômico.
No presente caso, só podemos imaginar o que Trump fará, dadas suas promessas de campanha. Assim, o que ele, possivelmente, adotará, será: política para baixar os impostos; políticas de combate à inflação, política tarifária e políticas não-tarifárias de incentivos à industrialização.
Na política de baixar os impostos ele só pode trabalhar com os impostos federais. No caso, o mais provável é diminuir o Corporate Income Tax (CIT) e para compensar a queda no orçamento federal, diminuir a ajuda externa aos países e instituições multilaterais (Ucrânia, ONU, OTAN, OMS, etc.).
Ao diminuir o CIT ele está dando incentivo à industrialização. Isto, praticamente, não terá efeito sobre a economia brasileira. Mas, ele pode alterar a política tarifária para proteger a indústria americana.
Trump não disse que aumentaria as tarifas americanas indiscriminadamente, a não ser em represália ao México.
Mas, se ele levar a política de defesa da indústria americana a toque de caixa e esse é um caminho fácil de seguir, aí, o prejuízo do Brasil pode ser grande.
Dado que incentivar a indústria significa aumentar a produção, uma consequência possível é a diminuição dos preços. Se isto ocorrer, vale salientar, tais medidas também ajudarão a controlar a inflação nos EUA. Portanto, este é um caminho com grandes chances de ser seguido por Trump.
Mas a ligação preço-taxa de juros é quase umbilical.
E por que ele não falou na prime rate? Porque esta é uma prerrogativa do FED. Mas imbuído do "great America again" o FED pode aumentar esta taxa para incrementar a entrada de recursos de investimento nos EUA. Se isso acontecer, o Brasil estará em maus lençóis, pois a Selic também terá de aumentar e o dólar aqui ficará mais escasso. Resultado: prejuízo para o Brasil.
Há de se ter em mente que dólar mais caro significa pressão inflacionária no Brasil, haja vista os aumentos que deverão ocorrer nos preços do petróleo, nos preços os bens tecnológicos e no preço do trigo, somente para citar alguns exemplos.
Vale, ainda, salientar que nos seus últimos pronunciamentos Trump falou da falta de comida para os "estrangeiros-americanos" (latinos, árabes, sul-africanos). Portanto, é possível que ele não interfira nas importações americanas de "commodities". Assim, neste particular, o Brasil não deverá ser afetado.
Por outro lado, o Brasil pode perder a possibilidade de receber algum recurso do governo Trump para a ajuda à preservação da Amazônia, por exemplo. n