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Nelson Bessa: A Cúpula de Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico no Peru
Opinião

Nelson Bessa: A Cúpula de Cooperação Econômica da Ásia-Pacífico no Peru

As 21 economias da Apec respondem por 62% da produção mundial, 48% do comércio de bens e serviços e 38% da população do planeta. A região da Ásia-Pacífico deve este ano manter um crescimento econômico estável
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José Nelson Bessa Maia

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A Apec é o principal fórum econômico da Ásia-Pacífico. Seu objetivo declarado é apoiar o crescimento econômico sustentável e a prosperidade na região. Trata-se de um esforço diplomático conjunto para formar uma comunidade dinâmica e harmoniosa, defendendo o comércio e o investimento livres e abertos, promovendo e acelerando a integração econômica regional e encorajando a cooperação econômica e técnica, com iniciativas que transformem objetivos de políticas em resultados concretos e acordos em benefícios tangíveis.

A Apec foi criada em 1989, quando 12 países da Ásia-Pacífico se reuniram para estabelecê-la. Os membros fundadores foram Austrália; Brunei; Canadá; Indonésia; Japão; Coreia do Sul; Malásia; Nova Zelândia; Filipinas; Cingapura; Tailândia e EUA. A República Popular da China; Hong Kong (atualmente uma Região Administrativa Especial da China) e Formosa (Taiwan chinesa) aderiram em 1991. O México e Papua Nova Guiné, em 1993. O Chile aderiu em 1994. E em 1998, o Peru; Rússia e Vietnã se juntaram ao grupo, elevando o número total de membros para 21 países.

Desta vez, a 31ª reunião de cúpula da Apec foi realizada no Peru de 13 a 15/11/2024. O país sediou a cúpula pela terceira vez, tendo feito anteriormente em 2008 e 2016. O tema da Apec 2024 foi "Empoderar, Incluir e Crescer." A reunião se concentrou na dimensão social do crescimento econômico e do desenvolvimento e incluiu ao todo mais de 160 reuniões paralelas em cinco cidades peruanas.

As prioridades para a Reunião de Cúpula da Apec incluíram: i) comércio e investimento para crescimento inclusivo e interconectado, com foco em políticas comerciais abertas e inclusivas que facilitem o crescimento econômico em diversos setores, garantindo sustentabilidade no longo prazo; ii) inovação e digitalização para promover a transição para uma economia formal e global, por meio de plataformas e ferramentas digitais, e iii) crescimento sustentável para o desenvolvimento resiliente, o que envolve transições energéticas, descarbonização de atividades econômicas e aumento da segurança alimentar para fomentar a resiliência diante das mudanças climáticas e outros desafios globais e regionais.

Este ano, com a cúpula da Apec na América do Sul, uma janela se abriu para consolidar alianças estratégicas e estabelecer diálogos efetivos sobre comércio, inovação e desenvolvimento sustentável. O fortalecimento dos laços com os países da Ásia-Pacífico permitirá ao Peru e outros países latino-americanos expandir oportunidades de exportação e atrair maiores investimentos, o que resultará em benefícios para setores-chave de suas economias e superação de tendências de estagnação econômica.

A propósito, a realização da Cúpula da Apec em Lima se realizou no momento em que se inaugurou a primeira etapa de um novo porto de US$ 3,5 bilhões que a China constrói em Chancay no Peru e que se espera venha a se tornar uma porta de integração do Brasil – a maior economia da América do Sul – com a Ásia-Pacífico, com potencial de alavancar suas exportações. Por ali, devem escoar rumo à Ásia desde materiais para a transição energética, como o lítio, a alimentos e produtos manufaturados. Ao mesmo tempo, o megaprojeto bilionário deve encurtar em um terço o tempo médio que a produção brasileira leva para chegar à Ásia.

A iniciativa chinesa em prol da integração entre a América do Sul e a Ásia tem despertado o interesse de empresas brasileiras e estrangeiras, pois tem o potencial de gerar novos negócios de comércio exterior. Mas para tirar proveito disso, o Brasil precisará ampliar sua parceria com a China para melhorar sua infraestrutura de transporte ferroviário, o que poderá deslanchar com a próxima visita de Estado do presidente chinês ao Brasil ainda este mês.

As 21 economias da Apec respondem por 62% da produção mundial, 48% do comércio de bens e serviços e 38% da população do planeta. A região da Ásia-Pacífico deve este ano manter um crescimento econômico estável, demonstrando resiliência diante da incerteza e dos desafios contínuos. De acordo com a última atualização, o PIB da região deve crescer 3,5% em 2024, praticamente mantendo a taxa de crescimento observada em 2023. No entanto, uma ligeira desaceleração é antecipada para 2025, com o crescimento que deverá diminuir para 3,1%, mas ainda acima das projeções anteriores de 2,9%.

A Apec tem contribuído em seus 35 anos de existência para a redução de tarifas e outras barreiras ao comércio na Ásia-Pacífico, levando à expansão do crescimento e do comércio inter-regional. No entanto, seu papel como fórum que reúne importantes países da região tem perdido efetividade devido à falta de suficiente consenso, engajamento e coesão. Ademais, a Apec tem perdido espaço como foro de acordo comercial devido ao número crescente de novos acordos regionais na Ásia. Sem falar na falta de vontade política para melhorar a infraestrutura de suporte ao aumento do comércio e do investimento na Região.


Apesar da Cúpula da Apec se desenrolar num quadro global de dificuldades econômicas, a reunião buscou contribuir positivamente para superar desconfianças mútuas, dirimir divergências e propor iniciativas concretas a favor do livre comércio e do fortalecimento das cadeias globais de valor no espaço da Ásia-Pacífico. Nesse aspecto, a abertura continuada da China para os demais países da Ásia-Pacífico é um fato auspicioso. A recentemente concluída 136ª Feira de Importação e Exportação da China, realizada na província de Cantão (Guangdong) é uma demonstração do papel proativo da China na manutenção de oportunidades de ampliação do comércio para países da Ásia-Pacífico e do resto do mundo e de importante reação ao protecionismo.


Por fim, durante a Cúpula da Apec, o presidente da China Xi Jinping afirmou que o mundo entrou em um novo período de turbulência e transformação e que tentativas de bloquear a cooperação econômica e romper a interdependência não passam de um retrocesso. Ele defendeu que a globalização econômica gere resultados mais positivos e leve a uma nova fase que seja mais dinâmica, inclusiva e sustentável. Ele acrescentou ainda que os princípios de "planejar juntos, construir juntos e se beneficiar juntos" devam ser seguidos, que a representação e a voz do Sul Global sejam aprimoradas continuamente e que todos os países do mundo possam ter oportunidades de participar na condução da cooperação econômica internacional.

(*) José Nelson Bessa Maia é economista brasileiro, mestre em Economia e doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (UnB) e pesquisador independente das relações China-Brasil, China-Países Lusófonos e China-América Latina.

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