No momento em que o bolsonarista se explodiu na Praça dos 3 Poderes, muita gente imaginou que se tratava de um ato isolado, de uma vítima da ideologia da extrema-direita e não de um terrorista. Li muita coisa nesses últimas dias e quando parei para escrever esse texto, mais um evento isolado apareceu: a polícia federal prendeu membros da alta patente do exército brasileiro.
Aqui então temos alguns ineditismos na política nacional. Pela primeira vez temos um atentado de gravidade máxima na capital do país, e pela primeira vez algum oficial de alta patente vai dormir atrás das grades, ainda que provisoriamente. Entre os explosivos de Tiu França e o celular de Mauro Cid reside uma atmosfera golpista que, apesar do acúmulo de evidências que se avolumam dia após dia, muitos por aí insistem em ignorar. O lobby pela anistia dos condenados pelo 8 de janeiro está a todo vapor.
Tudo isso tem o tempero peculiar do artigo de Jair Bolsonaro, publicado pela imprensa sudestina, em que ele fala de uma suposta defesa da democracia. São tempos difíceis, especialmente para aqueles que insistem que as instituições brasileiras seguem funcionando normalmente. Parece desnecessário fazer uma retrospectiva de todos os episódios que seguiram a derrota de Bolsonaro em 2022 até a posse de Lula. Os acampamentos em Brasília, o patriota do caminhão, fanáticos adorando um pneu vazio no meio de uma rodovia, a lista é longuíssima.
O plano de Braga Netto e sua trupe se soma a este caldo antidemocrático e nos mostra que sim, por muito pouco estivemos de viver a realização dos sonhos eróticos de Alexandre Garcia, Ives Gandra e Augusto Nunes, num simulacro insípido do que foi 1964. O que conspira a nosso favor é a massa cinzenta de Mauro Cid, Bolsonaro e a intelligentsia militar do nosso país. Graças a este elenco distinto, o Exército de Brancaleone parece um ajuntamento de excelência invejável.
Mas o alívio cômico é temporário, porque dificilmente a elite intelectual do bolsonarismo ficará presa. Pessimismo de lado, o histórico brasileiro de punir militares é, de longe, o pior entre os nossos vizinhos. n