Logo O POVO+
Erle Mesquita: Entre a exploração do trabalho e a proteção social
Opinião

Erle Mesquita: Entre a exploração do trabalho e a proteção social

Mesmo no setor formal, os trabalhadores frequentemente lidam com rendimentos que não ultrapassam o salário mínimo, o que contribui para a informalidade. Soma-se a isso a elevada rotatividade de mão de obra praticada pelas empresas
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Foto do Articulista

Erle Mesquita

Doutor em sociologia e analista do mercado de trabalho do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT)

A recente queda do desemprego, aliada à dificuldade de encontrar mão de obra para certas ocupações, reacende discussões sobre o "pleno emprego" ou a ideia de que as pessoas "não querem trabalhar" devido aos programas sociais que garantem a subsistência, como a compra de alimentos. No passado, muitos aceitavam jornadas exaustivas por baixas remunerações, devido à fome e à miséria, mas agora buscam melhores condições de trabalho.

Essa busca se depara com um dos grandes desafios enfrentados pelo mercado de trabalho nacional: o baixo padrão de remuneração. Mesmo no setor formal, os trabalhadores frequentemente lidam com rendimentos que não ultrapassam o salário mínimo, o que contribui para a informalidade. Soma-se a isso a elevada rotatividade de mão de obra praticada pelas empresas, que dificulta a perspectiva de progressão na carreira, tornando o trabalho assalariado e subordinado menos atraente, embora essa situação seja frequentemente estigmatizada como "falta de vontade de trabalhar".

Anualmente, milhares de trabalhadores são contratados em ciclos curtos, com vínculos que raramente ultrapassam doze meses, mesmo sob a contratação padrão da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Muitas empresas adotam essa prática como estratégia para reduzir custos trabalhistas, oferecendo salários baixos e retendo parte dos recursos destinados às despesas rescisórias. Além disso, um número crescente de trabalhadores tem optado por pedir demissão, intensificando essa dinâmica.

Ademais, as mudanças tecnológicas e novas formas de trabalho oferecem alternativas mais flexíveis, mas muitas vezes exigem longas jornadas sem proteção social ou trabalhista. Trabalhadores só percebem a falta de amparo legal em casos de acidentes ou roubos, como nas plataformas digitais. Isso pode levar alguns empresários a sentir falta no futuro da CLT, quando a legislação oferecia um relativo equilíbrio nas relações trabalhistas. Até lá, é mais fácil afirmar que as pessoas "não querem mais trabalhar" do que implementar políticas de retenção de talentos para os níveis mais baixos da pirâmide salarial.

O que você achou desse conteúdo?