Quando se vai ao médico com uma queixa a ser solucionada ou controlada, o paciente anseia em encontrar acolhida, com comunicação clara e sair com um entendimento sobre o que deve ser feito. Não importando qual a gravidade ou complexidade da queixa, poucos minutos nunca serão suficientes para que haja vinculação médico-paciente e se inicie um laço de confiança.
Essa semana encontrei um amigo, Maycon Felipe, excelente internista atuante em Sobral-CE, e discorremos sobre exemplos de mestres e como se criar vínculos com quem nos procura. Entre diagnósticos e tratamentos, há que existir uma escuta ativa, bem como um bom exame físico, este para o médico é uma forma de estreitar suas hipóteses diagnósticas, contudo para o paciente é a permissão de ter o corpo tocado e, portanto, o início de uma relação de confiança.
Para que tudo isso aconteça, ou volte a acontecer como já se bem praticara outrora, Marco Bóbbio, médico italiano, divulga e defende a Slow Medicine, a medicina sem pressa, como uma gostosa conversa numa cabana no campo, tomando um café com biscoitos fresquinhos em uma tarde de chuva.
Quanto menos se conversa, mais exames se pede, mais se invade o paciente, menos se respeita a sua individualidade e valores e mais se eleva o custo do cuidado em saúde.
E o que incomoda mais nisso tudo é o ensino médico incorporando a pressa e a velocidade fordista de produção, não permitindo conhecer bem a queixa por trás da queixa, a rotina que interfere na solução do problema ou mesmo saber se o tratamento indicado tem condição financeira de ser realizado.
A inovação e tecnologia deve ser aliada da boa medicina, não um caminho sem volta de desumanização. Não devemos, nós médicos, funcionar como uma inteligência artificial baseada apenas em diretrizes, pois jamais seremos melhores que a máquina em seu papel executivo, mas devemos ser demasiadamente humanos frente aos nossos pacientes, pois assim seremos sempre insubstituíveis.