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Carolina Matos: Fim da escala 6x1 porque os trabalhadores querem viver
Opinião

Carolina Matos: Fim da escala 6x1 porque os trabalhadores querem viver

Os argumentos contra o fim da escala 6x1 abusam do juridiquês e do economês. Não é exagero apontar semelhanças destes com os cínicos discursos contra o fim da escravidão ou a criação do 13º salário
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Carolina de Fátima Almeida Matos, Economista - UFC. Mestre em Economia - PPECO/UFRN (Foto: divulgação )
Foto: divulgação Carolina de Fátima Almeida Matos, Economista - UFC. Mestre em Economia - PPECO/UFRN

Inflamada pelas redes sociais, uma proposta de emenda constitucional se fortalece no Congresso, pautando no debate público o fim da escala 6x1, a jornada de seis dias de trabalho por um dia de folga.

A escala 6x1 no Brasil data de 1943, implementada na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), numa época em que a jornada era totalmente decidida pelo patronato. De lá para cá, os avanços produtivos e tecnológicos, amplamente demonstrados, contribuíram para o aumento da produtividade do trabalho, uma relação entre os recursos de produção e a quantidade de produtos ou serviços resultante do tempo dedicado ao trabalho. Mesmo assim, o trabalhador segue passando mais tempo no trabalho do que com sua família, impedido de desfrutar de lazer, de descanso ou de um momento para sua própria individualidade.  

Mais de 80 anos depois, a institucionalidade política se vê obrigada a discutir o óbvio: a escala 6x1 não permite vida além do trabalho. A propósito, o movimento que impulsionou a PEC tem exatamente esse nome: "Vida Além do Trabalho - VAT". Um comovente desabafo nas redes sociais viralizou e ganhou força em outros espaços, culminando na PEC em questão.    

Os argumentos contra o fim da escala 6x1 abusam do juridiquês e do economês, mas ainda assim são facilmente rebatidos. Além disso, não é exagero apontar semelhanças destes com os cínicos discursos contra o fim da escravidão ou a criação do 13º salário. Está comprovado que as pessoas são até mais produtivas em uma jornada com menos dias trabalhados. Acontece que, por trás desse debate amplo, há um elemento político caro aos donos do poder: o controle da classe trabalhadora.

A saga de trabalhar seis dias e folgar apenas um revela não só a falta de tempo para si, mas que essa troca penosa sequer proporciona bons salários. Revela a exploração do trabalho. Revela conflitos de classe. Acirrada a tensão entre capital e trabalho, o povo trabalhador se avulta e busca, com justiça, apropriar-se dos resultados do seu próprio trabalho. Diante disso, o outro lado teme ter que deixar a Casa Grande de vez.

 

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