A capital cearense ocupa a quarta posição no ranking nacional em população, com 2,6 milhões de habitantes, atrás apenas de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, e a maior cidade do Nordeste, superando por pouco Salvador, capital da Bahia. No tocante à economia, o município de Fortaleza figurou em 2021 em 1º lugar em termos de PIB municipal na região Nordeste e em 11º lugar no País, quando registrou um PIB de R$ 73,4 bilhões. Uma cidade de tal porte e com a localização privilegiada em relação aos grandes mercados mundiais (E UA e Europa) e a polos emergentes como a África precisa reforçar urgentemente sua capacidade de se relacionar com potenciais parceiros públicos e privados no exterior.
Essa nova área internacional a ser criada em Fortaleza, ao invés de ser reativa, deveria desenvolver ao máximo o potencial paradiplomático do município. A propósito, entende-se por paradiplomacia uma ferramenta que permite que governos subnacionais – municípios e estados – envolvam-se em relações internacionais para defender seus interesses, sem violar a soberania do Estado-Nação.
Isso mesmo. A paradiplomacia é diferente da diplomacia, que se ocupa de temas de alta política, como a segurança nacional, a defesa e os tratados de livre comércio etc. A paradiplomacia é uma extensão da política local, e se ocupa de temas pragmáticos como a captação de recursos e eventos, promoção do turismo, intercâmbio cultural e cooperação técnica em áreas como mobilidade urbana, educação, saúde, saneamento e proteção ao meio ambiente.
A paradiplomacia pode ser exercida na prática por meio de acordos de cidades-irmãs, participação em eventos promocionais, protocolos de cooperação técnica e engajamento em projetos de redes de cidades globais.
No momento em que uma nova administração se prepara para assumir a gestão municipal é bastante oportuno o tema da recriação de um órgão especializado voltado para as relações internacionais. Não se trata de criar mais uma estrutura burocrática na Prefeitura de Fortaleza, mas sim uma secretaria ágil e enxuta e ligada ao Gabinete do Prefeito, com pessoal capacitado e experiente para gerir as relações do município com entidades estrangeiras e internacionais e exercitar a captação de recursos e parcerias externas, tomando iniciativas para aproveitar do enorme potencial que existe na interação com organismos internacionais e na cooperação internacional inter-cidades, de modo a atrair investimentos privados e colaboração técnica para projetos de interesse do desenvolvimento da cidade e de seus munícipes.
Urge, portanto, por parte da nova administração municipal de Fortaleza que assumirá na virada do ano uma firme tomada de posição em prol da inserção internacional ativa da capital cearense, rompendo o marasmo dos últimos anos e buscando ocupar um espaço de destaque na paradiplomacia brasileira, um espaço que faça jus a sua posição dentre as mais importantes cidades do País e que contribua de forma relevante e positiva para a resolução de seus problemas inerentes a uma grande metrópole e o reforço de suas políticas públicas.
(*) Doutor em Relações Internacionais pela Universidade de Brasília (UnB), ex-secretário de assuntos internacionais do Governo do Estado do Ceará e atualmente consultor internacional