Os contrastes aviltantes entre o avanço tecnológico e o retrocesso humanitário expõem uma encruzilhada histórica que põe em risco a sobrevivência de todas as espécies que habitam a Casa Comum. Vivencia-se a simultaneidade de muitas crises a receber um conceito de crise socioambiental inédita nos ensinamentos do Papa Francisco.
Na busca de alternativas a esta, Ele escutou cientistas, movimentos sociais, religiosos de diversos matizes e foi montando um mosaico de escuta para formular pistas alternativas como base para um novo mundo.
A meta estabelecida pela ONU de acabar com a pobreza em 2030 não será cumprida e o dano ambiental definitivo ao planeta cresceu perigosamente. A política se apequenou. Há descobertas científicas na área de saúde, elevação de produtividade assim como uma terceira guerra mundial em curso sem que os sinais de resolução ganhem força para a construção da paz. A Igreja Católica também vive sua crise, neste intrigante início do século XXI: perda de fiéis, insuficiência de padres e uma intensa disputa teológica sobre os desdobramentos do Concílio Vaticano II.
Nas suas encíclicas sociais (leitura da Igreja sobre a realidade e os "sinais dos tempos"), nas suas ações e gestos, o Papa faz duras críticas à economia e ao estágio político a que chegamos com danos irreparáveis para as futuras gerações.
Mais do que constatações, Ele propõe ações que podem desencadear em um projeto a merecer o nome de novo Humanismo. Esta busca tem o vigoroso apoio da Igreja, mas ela mesma não deve ser a protagonista principal. Foram ouvidos os movimentos populares, cientistas sociais e economistas que fizeram suas primeiras ações e elaborações. Se estamos em uma crise excepcional que combina economia e valores éticos, ameaças à democracia e ao meio ambiente é preciso agir com urgência e profundidade, provoca o Papa Francisco.
A vida humana precisa de espaço para sua realização que não o neoliberalismo que a sufoca.
É para ontem a feitura de um projeto político onde os humanos se reconheçam e o mercado seja meio instrumental; onde o trabalho seja realização e não sujeição; e onde a maioria de pobres, explorados, assalariados seja o centro verdadeiro das ações políticas e do destino da verba pública.