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Ivan Barroso: Otimismo tecnológico e suas limitações.
Opinião

Ivan Barroso: Otimismo tecnológico e suas limitações.

Curiosamente, abolimos a expressão ‘planejamento econômico’ com medo de ‘‘soar muito comuna’’. Mas quem está mais preparado para a IA: Brasil ou China? O modelo chinês mostra a força do planejamento
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Ivan Barroso. Economista pesquisador do núcleo de economia política Viès (UFC), professor da disciplina de Sciences Économiques Et Sociales na Education Nationale, França. (Foto: Arquivo Pessoal)
Foto: Arquivo Pessoal Ivan Barroso. Economista pesquisador do núcleo de economia política Viès (UFC), professor da disciplina de Sciences Économiques Et Sociales na Education Nationale, França.

Marx celebrou o progresso técnico acreditanto que ele libertaria os trabalhadores, ampliando seu tempo livre no socialismo. Seus críticos, ao acusarem sua obra de ideológica, provavelmente não leram O Capital, que envelheceu como vinho. Nele, Marx não culpa o capitalista, mas o sistema: O Capital. Ele já denunciava os impactos do progresso técnico sobre os trabalhadores na Inglaterra do século XIX.

A inteligência artificial representa uma revolução cujos limites desconhecemos, mas seus efeitos, como o desemprego causado pela substituição por máquinas, não podem ser atribuídos às vítimas. Esse fenômeno não é casual. Para maximizar lucros, O Capital reduz custos e cria tecnologias que eliminam empregos humanos.

Quanto maior a concorrência por vagas de trabalho, mais baixos os salários. Não há bem-estar social sob o domínio d’O Capital. Isso se torna cada vez mais real no Velho Continente e não é novo no Brasil subdesenvolvido e dependente.

Curiosamente, abolimos a expressão ‘planejamento econômico’ com medo de ‘‘soar muito comuna’’. Mas quem está mais preparado para a IA: Brasil ou China? O modelo chinês, embora ‘‘bom pra chinês’’, mostra a força do planejamento ao preservar empregos no campo enquanto desenvolve IA nas cidades.

Enquanto o Brasil permanecer subordinado ao modelo ultra liberal, não há espaço para otimismo. O progresso avança na velocidade do som, enquanto nossos paliativos andam como um Ford Ka 2007.
Escrevo estas linhas após ler sobre os cortes do ministro Haddad, aquele que derrotaria o fascismo com flores e violão, mas que hoje vira as costas à sociedade.

Num país que se desindustrializa há 40 anos, aplicando uma política de recessão econômica, é difícil acreditar no “Ceará Hub de IA”, o mesmo Ceará que eliminou centenas de empregos de trocadores de ônibus com a instauração do passecard.

Mas, na hipótese do Ceará Hub de IA, cabe perguntar: de onde vêm os investimentos? Quem registra as patentes? Não estamos apenas criando uma nova commoditie chamada “mão-de-obra tecnológica barata e abundante”? Eis as questões.

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